PROTOCOLO PEDIASUIT®
O que é?
É um tratamento intensivo, com duração de quatro semanas com quatro horas diárias de exercícios associado ao uso de um macacão terapêutico ortopédico, que irá promover um ajuste biomecânico no paciente.
É um recurso usado pelo fisioterapeuta no tratamento de sequelas neurosensoriomotoras como: hemiplegia, diplegia, tetraplegia, ataxia, discinesia.
1) História
Em 1971, o “Penguin suit” foi desenvolvido pelo programa espacial da Rússia. Este suit especial foi usado pelos astronautas em vôos espaciais para neutralizar os efeitos nocivos da ausência de gravidade e hipocinesia sobre o corpo: perda de densidade óssea, alteração da integração das respostas sensoriais, atrofia muscular, alteração da integração das respostas motoras, alterações cardiovasculares, e desequilíbrios homeostáticos . Cientistas e especialistas em medicina espacial, depois de uma longa pesquisa, criaram este suit com ação de carga, o que tornou, longas viagens ao espaço possíveis. O suit desenvolvido pelo programa espacial russo foi o primeiro passo para a moderna “suit terapia”. No entanto, este suit limitava o movimento dos astronautas, e era difícil de ser vestido. Por outro lado, o seu design ortopédico dinâmico foi um sucesso. O fato de que ele podia ser usado por longos períodos de tempo foi a base da criação da terapia intensiva com o suit. Mais tarde, a tecnologia da “suit terapia” passou a ser compartilhada com profissionais de reabilitação. Eles perceberam que os efeitos da ausência da gravidade eram semelhantes aos problemas físicos em pacientes com Paralisia Cerebral (PC) e outras condições neurológicas. Por essa razão, eles decidiram adaptar o suit para pacientes com PC. Em meados dos anos 90 uma clínica na Polônia deu um passo além, e desenvolveu o “Adeli suit”, o primeiro a ser usado em crianças com PC. O PediaSuit é uma vestimenta ortopédica macia e dinâmica que consiste em chapéu, colete, calção, joelheiras e calçados adaptados que são interligados por bandas elásticas. O conceito básico do PediaSuit é o de criar uma unidade de suporte para alinhar o corpo o mais próximo do funcional possível, restabelecendo o correto alinhamento postural e a descarga de peso que são fundamentais na modulação do tônus muscular da função sensorial e vestibular. As bandas elásticas são ajustáveis, o que significa que se pode aplicar axialmente no corpo uma descarga de 15 a 40 kg. O PediaSuit é o tipo mais moderno de macacão terapêutico ortopédico disponível atualmente. O PediaSuit foi criado em 2006 por Leonardo de Oliveira (figura 2), co‐fundador da Therapies4kids. A Therapies4kids é uma clínica de terapia intensiva localizada em Fort Lauderdale (Flórida, Estados Unidos da América) e ela foi criada para a reabilitação do seu filho, Lucas, que é hemiplégico, devido a uma anóxia cerebral, e precisava de tratamentos eficazes, como a terapia intensiva. Lucas começou a engatinhar após a primeira semana de terapia intensiva
com o uso do macacão terapêutico ortopédico e começou a caminhar no final da terceira semana.
2.1 Aspectos funcionais do PediaSuit
Após a história de sucesso de Lucas, Leonardo de Oliveira e um grupo de terapeutas desenvolveram o PediaSuit com base no “Penguim suit” da Rússia, mas com adaptações e
melhorias consideradas necessárias como: 1) Saída de emergência dos shorts, 2) Material mais poroso e de melhor transpiração. 3) Gola mais anatômica 4) Tela perfurada. Essas mudanças foram feitas por um grupo de colaboradores profissionais da área da saúde baseados nos EUA: Luana Pedrozo, MSPT (Halandale Beach,FL); Braz Paiva, PT (Oakland Park,FL); Justin Thomas, Fisiologista e EMT(Fort Lauderdale,FL). Figura 2
O grupo percebeu que o material para a confecção do macacão terapêutico ortopédico precisava ser mais leve, transpirável e, também, precisava ser de fácil aplicação e remoção, além de ser confortável. O grupo de profissionais, somado aos colaboradores da área da saúde, discute com frequência o que pode ser feito para melhorar ainda mais o macacão terapêutico ortopédico, tornando o PediaSuit uma terapia em constante evolução. A ideia era a de fazer um macacão terapêutico ortopédico de fácil acesso, que pudesse ser ensinado aos terapeutas de todo o mundo e, também, para os pais de pacientes de outros países, onde não existem clínicas do PediaSuit . A integração sensorial foi também uma preocupação para os designers. Com base nas experiências diárias e descobertas da Professora Temple Grandin (Texas), doutora em ciência animal e inventora da máquina do abraço, o grupo decidiu projetar exercícios para pacientes autistas. O grupo levou em consideração as propriedades da máquina do abraço, e tornou o PediaSuit uma máquina do abraço dinâmica, com a qual o paciente pode caminhar e fazer tarefas ocupacionais com o conforto e input sensoriais necessários. Até hoje, muitos pacientes com necessidades especiais têm se beneficiado do uso do PediaSuit. As histórias de sucesso são muitas e estas não envolvem somente uma melhora em seu quadro motor, mas uma melhoria em sua qualidade de vida em geral. Com relação a sua confecção, o PediaSuit é fabricado nos EUA, com várias peças vindas da Índia, Indonésia e Malásia. O PediaSuit é feito de um tecido macio, transpirável, com almofadas para tornar a sua utilização, a longo prazo, mais confortável para os pacientes. Seu calção também tem botões na parte inferior para fazer a troca das fraldas, se necessária, mais fácil para os responsáveis, sem a necessidade de retirar todo o macacão terapêutico, ganhando tempo precioso de terapia. O exoesqueleto produzido pelo macacão terapêutico ortopédico aumenta significativamente os efeitos na habilidade do paciente em executar novos planos motores. O macacão terapêutico, combinado com a repetição dos exercícios, tem a habilidade de fornecer plasticidade cerebral para a apreensão de novos padrões de movimentos, fazendo com que os pacientes aprendam estes novos padrões e ganhem força muscular ao mesmo tempo. Isso, associado ao treinamento de força muscular, torna o PediaSuit ideal para o tratamento de muitos distúrbios neurológicos, especialmente paralisia cerebral.
2.2 Base Neurofisiológica
A teoria, por trás da terapia com o macacão terapêutico (Órtese Proprioceptiva), é a de que, uma vez que o corpo esteja em alinhamento, com o suporte e a pressão exercidos em todas as articulações, a terapia intensiva vai reeducar o cérebro para reconhecer padrões de movimentos funcionais e a atividade muscular. O fato de que os resultados obtidos com o tratamento com este tipo de terapia são mantidos após o ciclo de tratamento é, também, de grande importância. Todas as fases e componentes do protocolo PediaSuit têm sua fundamentação cientifica descrita há muitos anos. O Protocolo agregou tratamentos em uma única sessão com a otimização do equipamento e da Órtese Proprioceptiva para a formação da Terapia Intensiva. O sistema vestibular é um sistema fundamental que afeta nossa capacidade de movimento e equilíbrio. Nosso corpo tem muitos órgãos sensoriais que enviam informações ao cérebro sobre o que o nosso corpo está vivenciando, onde estamos no espaço, e se nosso corpo está seguindo o comando do cérebro. Os receptores sensitivos e proprioceptivos que temos em todas as nossas articulações são os principais intervenientes nesta comunicação. Com o uso do macacão terapêutico ortopédico essa comunicação é facilitada, uma vez que a ação do mesmo causa a compressão de todas as grandes articulações. O macacão terapêutico ortopédico auxilia na plasticidade do sistema nervoso central, permitindo que o paciente adeque complexos padrões de movimentos patológicos e que execute e repita padrões de movimento previamente desconhecidos. O princípio de ação da terapia com o uso da Órtese Proprioceptiva é o de focar na correção da postura do paciente e no padrão funcional de movimento. Isto pode ser atingido dando o suporte que o paciente necessita através de ajustes realizados no macacão. Em consequência, um poderoso fluxo de impulsos aferentes influencia no centro motor do cérebro a fim de restabelecer as suas funções danificadas. Como efeito, as sinergias patológicas estabelecidas são desencorajadas e novas sequências de funcionalidade são criadas.
3) Utilização do PediaSuit na Terapia Intensiva
O uso da Órtese Proprioceptiva, combinada com o protocolo de terapia intensiva, foca no desenvolvimento motor, no reforço muscular, na resistência, na flexibilidade, no equilíbrio e na coordenação. Os elementos chaves deste tipo de terapia são o PediaSuit e a “Ability Exercise Unit” (AEU) ou “gaiola”. A “Gaiola Monkey” (figura 3) é uma gaiola de metal tridimensional rígida com polias metálicas que são arranjadas para alongar e fortalecer os grupos musculares. Na “Gaiola da Spider”, o paciente usa um cinto de couro, ao qual cabos elásticos estão conectados. Desta forma, o paciente é suportado e pode seguramente aprender a fazer transferência de peso, saltar, ajoelhar, subir degraus e passar sobre objetos. A “Gaiola da Spider” (figura 4) é uma ferramenta eficaz para a aplicação do tratamento do Conceito Bobath, um dos métodos mais difundidos e aceitos para a “reprogramação” do sistema nervoso central e neuromuscular e para ensinar cérebro as habilidades motoras funcionais. Figuras 3
Figuras 4
4) Indicações
A terapia com o macacão terapêutico ortopédico, combinada com a fisioterapia intensiva, tem sido benéfica para crianças com diagnósticos, incluindo:
Paralisia cerebral
Atraso no desenvolvimento motor
traumatismo crâniobencefálico
AVC
Ataxia
Atetose
Deficiências neurológicas
Deficiências ortopédicas
Doenças genéticas
Sequelas pós‐cirúrgicas
Lesões da medula espinhal
Transtornos vestibulares
Síndrome de Down
5) Precauções e Contra-indicações
Antes de iniciar a terapia com o macacão terapêutico ortopédico, um exame de raio‐x recente do quadril se faz necessário.