22/12/2022
Eu sei que provavelmente cresceste a ver pais a agredir filhos.
Eu sei que provavelmente pensas que “um estalo num fez mal a ninguém”.
Eu sei que provavelmente supões que bater é educar.
Eu sei que provavelmente o teu modelo de educação faz com que penses que é natural agredir o teu filho.
Eu sei que provavelmente te faz bem à consciência acreditar que quando lhe bates o estás a ajudar.
Eu sei que provavelmente julgas que um "tau-tau", ou uma “palmadinha”, ou “sacudir o pó”, ou uma “sapatadita”, ou qualquer outro eufemismo que queiras usar para te aligeirar a culpa, só faz bem ao teu filho.
Eu sei que provavelmente imaginas que é com violência que impões regras, que é ao bater que traças limites.
Mas não há palmadas educativas, não há agressões preventivas.
Não sou eu que o digo. É a ciência.
A ciência diz que bater em alguém mais fraco e indefeso é um acto de cobardia.
A ciência diz que a palmada não resolve conflitos; só desperta raiva.
A ciência diz que os danos emocionais que derivam da violência física são muito mais severos e dolorosos do que a própria violência física.
A ciência diz que bater afasta pais e filhos.
A ciência diz que quando um pai agride um filho está a colocar em causa a confiança e a credibilidade que tem junto do filho — que deveria vê-lo como a figura que ampara e não a que agride.
A ciência diz que uma criança vai ter dificuldade em sentir-se segura junto de alguém que se descontrola e que a agride.
A ciência diz que bater numa criança é um atestado de fracasso que os pais passam a si mesmos.
A ciência diz que bater num filho é validar a cultura da violência — e que não é com violência que se criam adultos pacíficos.
A ciência diz, enfim, que o sentido de justiça consiste basicamente em não fazer aos outros o que não gostávamos que nos fizessem: quando agimos de maneira inadequada não esperamos punição, mas sim que nos compreendam e nos ajudem a agir da forma correcta. Porque havia de ser diferente com as crianças?
No Chipre, na Finlândia, na Noruega, na Suécia, na Áustria e na Dinamarca é proibido todo o tipo de castigo físico a crianças — nem que seja perpetrado pelos pais.
Deixo-te estas palavras para que penses um pouco. Para que te entendas melhor. Para que saibas que estás a tempo, sempre a tempo, de mudar, de perceber, de evoluir, de ser uma pessoa, e um pai ou mãe, melhor. Não te culpes, não penses que és má pessoa. Pede desculpa, melhora. Os teus filhos, e o mundo, agradecem.