16/11/2025
Episódio 4 - A sabedoria das fogueiras
Nosso é Melhor 🇲🇿
O pátio interno da Universidade Eduardo Mondlane estava quase vazio.
Era final da tarde, e o sol pintava o chão com manchas de luz dourada.
Mário e o Professor Mahlemba estavam sentados perto da cantina, observando um grupo de estudantes a discutir um trabalho.
“Professor,” perguntou Mário, “como aprendiam as pessoas antes das escolas? Como se passava o conhecimento?”
Mahlemba olhou para o grupo de jovens e respondeu: “Aprendia-se vivendo, Mário. Muito antes das escolas e dos cadernos, o saber passava pela palavra e pelo exemplo. Há quase mil anos, quando o sol se punha, as aldeias se reuniam em volta da fogueira. Ali, os mais velhos contavam histórias, os jovens escutavam, e as crianças aprendiam sem perceber que estavam a aprender.”
“E que tipo de histórias eram essas?” perguntou Mário.
“Histórias que ensinavam o essencial,” respondeu o professor. “Sobre a amizade, o respeito, o valor da terra, a coragem e a paciência. Cada conto era uma lição disfarçada. Um caçador impaciente podia perder a presa; um mentiroso podia enganar-se a si mesmo; uma criança curiosa demais podia descobrir cedo o perigo. Assim se formava o caráter. As fogueiras eram as universidades do povo.”
Mário sorriu. “Parece mais interessante do que as aulas de hoje.”
Mahlemba riu. “Porque não havia distância entre o saber e a vida. Hoje estudamos fórmulas, mas esquecemos propósitos. A sabedoria antiga ensinava a viver, não apenas a passar exames. Era um conhecimento lento, mas profundo, e é esse ritmo que perdemos. Queremos aprender tudo rápido, mas sem tempo de compreender.”
O som do vento passou entre as árvores. Mahlemba olhou para o céu e acrescentou: “O problema não é ter deixado as fogueiras. É termos apagado a chama do ouvir. Hoje todos falam, poucos escutam e sem escuta, não há aprendizagem.”
Mário ficou pensativo. “Talvez devêssemos acender de novo as nossas fogueiras, professor mesmo que sejam interiores.”
“Sim, Mário,” respondeu o professor. “Porque é à volta do fogo que a humanidade sempre se reencontra.”
Mensagem final: Antes das escolas, havia a escuta. Antes dos livros, havia histórias. E quem não aprende a ouvir, nunca saberá ensinar.
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