Ana Caló - Médica a Casa

22/10/2025

⭐️

11/10/2025

Ser especialista em Cuidados Paliativos é, naturalmente, conhecer técnicas, protocolos e evidências mas, acima de tudo, é estar inteiro — com o coração disponível, o olhar atento e a presença verdadeira.

No fim, o que mais conta não é só o que fazemos, mas como estamos com quem mais precisa.

Hoje é o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos.

Hoje celebramos a dignidade, a compaixão e a humanidade no cuidar.

Hoje recordo tantas histórias que já vivi com doentes paliativos e o meu coração enche-se de gratidão e nostalgia, e peço a Deus que me dê saúde para fazer muito muito mais. 🌟

24/09/2025

A infeção por COVID-19 ainda é uma causa frequente de sintomas não só respiratórios (escorrência nasal, dor de garganta, tosse, …) mas também de vómitos, cólicas abdominais e diarreia.

Como é uma infeção vírica é expectável que os sintomas se resolvam ao fim de poucos dias (não se trata com antibiótico; tratam-se os sintomas com medicamentos para a febre, dores,…).

Naturalmente que nos doentes idosos e com doenças crónicas a preocupação é maior, nomeadamente sobre a evolução para pneumonia e necessidade de cuidados mais diferenciados (que podem incluir o internamento hospitalar).

A avaliação, ao longo dos primeiros dias, do aparecimento de sinais de gravidade é essencial para o tratamento atempado de alguma complicação que possa surgir, e este apoio deixa os cuidadores mais amparados e mais descansados 🌷

20/09/2025

A nota de alta de Cardiologia deste senhor da fotografia, que me honra com as suas visitas quando vai ao controlo de sangue ao hospital, diz assim (adaptei a linguagem técnica):

Recorreu de noite (novembro 2016) ao serviço de urgência do hospital de Amarante por dor no peito; o eletrocardiograma mostrou um enfarte grave; enquanto esperava pela ambulância que o iria transportar ao hospital de Penafiel para fazer um cateterismo emergente, sofreu uma paragem cardíaca testemunhada pelos senhores enfermeiros da urgência que agiram imediatamente (às 3 horas da manhã) e recuperou sinais de vida após o décimo sétimo choque (17 choques elétricos!) e foi transportado para o hospital de São João (onde esteve internado até ter alta).

Quando me procura para me cumprimentar, nove anos depois, sei que é porque para esta família eu represento todos aqueles a quem são gratos por terem esta brilhante - e rara - história para contar, todos os senhores administrativos, enfermeiros, auxiliares, bombeiros que participaram desta longa jornada em vários hospitais.

Quando os vejo…
o meu coração enche-se de gratidão, alegria
e de muitas esperanças 🤍

14/09/2025

“Doutora eu sei que é domingo mas a minha mãe mal acorda, não fala, só dorme… pode ajudar-nos a decidir se tem que ir para o hospital?”

Chego eu, dou um beijinho nesta cara laroca, digo “minha querida, sou eu, a sua médica!”, e responde-me ela baixinho, para sossego dos 10 filhos, “boa tarde, doutora” ❤️

O que me fez decidir com segurança que a sonolência excessiva era provavelmente uma flutuação de demência, e também que não eram necessários cuidados urgentes, nomeadamente hospitalares:

- conhecer muito bem a doente, já a ter visto muito bem e já a ter visto muito doente várias vezes;

- a utente tinha comido bem e bebido água suficiente;

- os sinais vitais estavam dentro do normal (é essencial conhecer bem o histórico da doente para saber o que é “o normal dela”)

- não havia sinais de pneumonia na auscultação e o exame abdominal era normal; o restante exame físico era normal

- tínhamos umas análises recentes que não tinham alterações (sangue e urina)

- a filha que é a cuidadora principal tem um enorme senso clínico e é 100% capaz de identificar sinais de alarme; compreende também que a saúde não é estanque e que há quadros clínicos que podem estar a instalar-se e que apenas a evolução nos vai mostrar o que está a acontecer

- a filha liga-me se o quadro evoluir 🥰

27/08/2025

Há 16 anos que as pessoas de Amarante me conquistaram. Na altura fazia também (alternadamente) turnos de fim-de-semana em Famalicão, Aveiro, Alfena (e trabalhava no Hospital de São João), mas foi aqui a Amarante que o meu coração ficou ligado.

Inicialmente fazia medicina do trabalho em empresas locais e urgência de Medicina Interna, e começaram-me a pedir, muito gentilmente, “se fosse a minha casa era tão bom, não ter que trazer a minha mãe para o hospital…”Foi assim que começou este projeto dos domicílios a que me continuo a dedicar 7 dias por semana com muito carinho e com uma experiência crescente, mais madura e mais confiante do valor que entrego nessas consultas.

Desde Julho sou também médica no internamento do hospital de Amarante, um hospital moderno, confortável, cheio de potencial para servir cada vez melhor os nossos utentes.

Tem sido um gosto enorme servir os 60 utentes internados no Serviço de Medicina Interna do hospital de Amarante, alguns deles que já avaliei nalgum contexto (casa, urgência, internamento, lar, consultório) ao longo desta década e meia, e em muitos casos já conheço as famílias e as suas dinâmicas particulares, as suas forças e as experiências pelas quais foram passando...

No internamento de Amarante trabalho com equipas em que acompanhei o crescimento dos filhos, as doenças dos cônjuges, os desafios da velhice dos familiares, partilhando diariamente, uns com os outros, quem Somos depois das alegrias e das tristezas que todos enfrentámos ao longo destes anos. Juntos.

16/08/2025

Há uma fotografia do João Francisco que tem corrido Portugal. Com uma pulseira de hotel no pulso, a montanha e o mar em cenário, o jovem turista tem um semblante entristecido, olhar alheado. Podia ser uma banal foto de férias, algures no Mediterrâneo, mas não há como ver esta chapa sem pensar no fim-do-mundo para este ainda menino. Sem a interpretar como um epitáfio. Está de costas para o espetáculo crepuscular da Mãe-Natureza, de costas para o horizonte, de costas para o futuro, sem nos fitar, sem fixar a câmara, sem procurar o outro, olhos no vazio. No oco. Esse nada que engole vidas, esse vórtex-voraz suga-almas, essa dor sem nome, causa ou cor, monstra, de bocarra escancarada, que hipnotizou o João Francisco e que, depois, nunca mais o largou.
O amanhã podia ter sido esplêndido, a vida é bela, este gaiense era aluno de mão cheia, já jurista, tinha família e amigos, interesses, mas foi encontrado a boiar numa praia que não essa da memória de viagem, dias depois de ter desaparecido à procura de afogar o seu sofrimento, de o calar para sempre. E calou. Esperemos é que a sua lamentável morte tenha dado voz à necessidade imperiosa de cuidar da saúde mental. A depressão é uma grande assassina. Deixa-nos completamente sós no mundo, mesmo que estejamos no meio de gente querida ou até da multidão. E a solidão mata. Mata sempre. A morte de João Francisco Colaço, 22 anos, não pode ser apenas mais um número. Precisa de ser mudança e o ressuscitar desse amanhã perdido.
Um abraço terno a todos os que o amavam 🖤.

12/08/2025

Fui com muitíssimo gosto e entusiasmo à festa dos 97 anos da nossa querida D. Glória. Sinto-me sempre honrada quando me convidam para estes eventos como se eu fosse da família, e vou sempre que posso! A D. Glória, nesta foto, estava-me a dizer que já tinha perguntado por mim, derreteu-me o coração.
Que conte muitos.
À sua maravilhosa família, o meu reconhecimento pela forma como estimam a Glorinha, é um privilégio ser convidada para lares como o vosso. 💐

11/08/2025

Desde o início do ano colaboro com a Coophousing, uma residência sénior localizada em Vila Chã do Marão. É uma família pequenina, com 12 residentes; os quartos são distribuídos à volta da zona comum (sala de jantar e sala de estar), todos com acesso direto ao exterior. Existem projetos de ampliação e re-organização dos espaços, de forma a servir sempre melhor a nossa população.

O apoio médico a residências séniores e lares é um serviço diferenciador da qualidade de cuidados da instituição, nomeadamente se exercido por Medicina Interna e Paliativa, já que:

centraliza a gestão dos cuidados de saúde de cada utente num médico,

estando de prevenção 7 dias por semana, apoia a resolução de qualquer intercorrência clínica, reduzindo significativamente as idas desnecessárias ao serviço de urgência, que tanto impacto têm na qualidade da saúde dos utentes,

oferece aos residentes e seus familiares a segurança e tranquilidade de um apoio contínuo por uma especialidade hospitalar,

A otimização dos cuidados de conforto é uma preocupação em cada utente, com especial foco, naturalmente, nos utentes em fim de vida.

09/08/2025

Lido diariamente com pessoas que, independentemente da idade ser muita ou pouca, da saúde ser ainda rija, da conta bancária estar bem composta, “não estão bem com nada”, não se entretêm com nada, não gostam de nada, sabem como é?

Quando estou a ouvi-las penso no quanto sofrerão por se relacionarem assim com a vida, e lembro-me sempre desta querida amiga de 87 anos, que tendo sido presenteada com um moderno iPad no último Natal, o tem usado para fotografar a natureza ao seu redor.

“Estive uma hora ali em pé à beira do tanque para fotografar a libelinha com as asas abertas pousada na água, mas valeu a pena, esta fotografia está espetacular não está? Eu já tenho fotografias para fazer uma exposição”

Está pois. Está espetacular como a do relâmpago que fotografou à uma e um quarto da manhã numa noite de temporal.

Espetacular como tudo o que representa uma senhora de 87 anos se encantar por uma libelinha.

É caso para dizer,
que bem se vive quando se vive bem,
concordam?

🌈

06/08/2025

Uma semana triste.

Levam um pouco de nós e deixam-nos mais ricos por terem feito parte das nossas vidas.

Aos familiares que não arredaram pé até à despedida, o meu sentido reconhecimento. Tantas noites sem dormir ou a dormitar num cadeirão de hospital. Tantos sacrifícios para lhes garantirem os melhores cuidados em vida. Tantas dúvidas sobre que é o melhor, do que é afinal certo ou errado, se é melhor estar em casa ou no hospital. Tanto respeito pelas preferências que foram demonstrando ao longo da vida. Quanto Amor.

22/04/2025