23/12/2025
Ela tem 17 anos.
Dezessete.
E acabou hoje no Canil Municipal da Guarda
Não porque morde.
Não porque faz estragos.
Não porque deixou de ser amada.
Mas porque os humanos dela foram para um lar.
E alguém decidiu que, no fim da vida, ela ficaria sozinha.
É de porte pequeno.
Pesa 10 kg de ossinhos cansados e memórias antigas.
É meiga, mas está assustada porque o mundo dela acabou de desabar.
Só come comida caseira, daquelas feitas com tempo e carinho, como quem ama.
Estamos a dias do Natal.
Enquanto montamos árvores, embrulhamos presentes e falamos de família…
ela perdeu a única que conheceu em 17 anos.
Tentem imaginar:
17 invernos.
17 verões.
17 anos a dormir no mesmo canto, a reconhecer os mesmos passos, a esperar as mesmas mãos.
E agora… grades. Cheiros estranhos. Barulho ensurdecedor de 100 cães a ladrar.
Dizem-nos que é “a vida”.
Que “não havia alternativa”.
Mas há histórias que não deviam acontecer.
E esta é uma delas.
Ela não pede muito.
Não pede brinquedos.
Não pede longas caminhadas.
Pede calma.
Pede um sofá.
Pede alguém que não a abandone outra vez.
Se isto não te revolta um bocadinho,
se isto não te aperta o peito,
então sim… o mundo está de pernas para o ar.
Mas talvez ainda haja espaço para um milagre de Natal.
Talvez alguém leia isto e pense:
“Ela pode terminar a vida comigo.”
Porque ninguém devia envelhecer assim.
Muito menos no Natal. 🎄🐾