16/11/2025
“O meu estilo de vida não está alinhado com a forma como fui desenhado.”
Cegueira típica: achar que é “só ergonomia”.
• Stress crónico → aumenta o tónus muscular, sobretudo na cintura escapular e cervical. F**a praticamente em “modo luta-fuga” o dia todo.
• Sono fraco ou almofada inadequada → o pescoço não recupera da carga do dia.
• Sedentarismo → músculos estabilizadores fracos, qualquer esforço mínimo descompensa tudo.
G
Das duas coisas, quase sempre.
Stress crónico aumenta o tónus muscular, especialmente no pescoço e ombros.
Se, em cima disso, tem postura em flexão e músculos fracos, o sistema entra em falência: tudo dói.
Tratar só o stress sem mexer no corpo é curto. Tratar só o corpo ignorando o stress também.
Se não mexe no combo postura + stress + sono + movimento, está a pedir ao médico que faça magia onde o seu corpo precisa de disciplina.
• A lordose cervical (curvatura em “C” aberto para trás) é o desenho natural que distribui a carga.
• Quando passa o dia em flexão:
• Os discos intervertebrais anteriores levam mais pressão → risco de protrusões/hernias.
• As facetas posteriores ficam sobrecarregadas quando volta a posição neutra → dor mecânica.
• Os músculos estabilizadores profundos (flexores cervicais profundos) praticamente “desligam”.
• Quem tenta compensar são os músculos superficiais (trapézio, esternocleidomastoideo): ficam tensos, dolorosos, com trigger points.
Resultado:
• Pescoço rígido,
• dor ao rodar,
• estalos,
• dores de cabeça,
• sensação de “cabeça pesada” ao fim do dia.
É isso que o seu pescoço está a dizer:
“O teu estilo de vida não está alinhado com a forma como fui desenhado.”
“Mas eu sento-me ‘mais ou menos’ direito. Isso não chega?”
Não.
“Mais ou menos” direito, 8–10 horas por dia, é receita para dor crónica.
Postura não é pose ocasional, é repetição:
• Como se senta,
• como olha para o telemóvel,
• como conduz,
• como vê televisão,
dia após dia.
Se não há estratégia (pausas, exercícios específicos, ajustes de ecrã), está apenas a gerir o problema, não a resolvê-lo.
“É normal ter dores cervicais depois dos 50?”
“Normal” não é o mesmo que “inevitável”.
Sim, com a idade há mais desgaste articular.
Mas a velocidade desse desgaste é altamente influenciada por:
• anos de má postura,
• sedentarismo,
• falta de fortalecimento,
• excesso de peso.
Aceitar dor como “normal” é a melhor forma de garantir que ela se mantém.
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“Mudar de almofada resolve o problema?”
Ajuda, mas não faz milagres.
Uma almofada adequada mantém a coluna alinhada durante o sono.
Mas se passa o dia todo curvado sobre o ecrã, a almofada é apenas um detalhe.
Trocar de almofada sem mudar hábitos é tentar resolver incêndio com copo de água.
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“Que posturas do dia a dia mais destroem o pescoço?”
As mais frequentes:
1. Trabalhar no portátil em mesa baixa, pescoço em flexão.
2. Usar telemóvel ao nível do colo, cabeça “pendurada” para a frente.
3. Conduzir com o banco demasiado inclinado para trás, pescoço projetado.
4. Ver televisão deitado de lado, com a cabeça torcida.
Se se reconhece em 2 ou mais destes pontos, o pescoço não é azar: é consequência.
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“Fazer alongamentos no fim do dia chega para compensar?”
Não.
Alongar 5 minutos não apaga 8 horas de postura má.
Alongamentos ajudam, mas precisa de:
• pausas ativas durante o dia,
• fortalecimento dos músculos cervicais e escapulares,
• ergonomia razoável,
• sono minimamente reparador.
Se continuar a pensar que “dois alongamentos” resolvem tudo, vai andar em ciclos de melhora e recaída.
Sinais de alerta – quando a dor cervical já não é só “postura má”
Aqui não é para relativizar, é para não ignorar:
• Dor cervical com formigueiro, perda de força ou dor a irradiar para o braço/mão.
• Perda de destreza nas mãos (deixar cair objetos, dificuldade em abotoar, etc.).
• Alterações de marcha, sensação de desequilíbrio, fraqueza nas pernas.
• Dor intensa e progressiva sem alívio, especialmente à noite.
• Febre, perda de peso, histórico de cancro + dor cervical.
Nestas situações, ficar só à espera que “a ginástica resolva” é irresponsável. Precisa de avaliação médica.
Licínio Carneiro - OM 23193
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