19/11/2025
Querido Fabrício Carpinejar:
não venho contestar nada. A sua ideia é legítima. Nasce do que vê, da sua experiência, do seu olhar, da sua história. Compreendo o que diz sobre a exclusividade, sobre o risco de vivermos pelos filhos até esquecermos o que fazer com a própria sombra. Permita-me dizer-lhe, com a humildade de quem fala com dores frescas, que há amores que não anulam nada; só aprofundam. Permita-me dizer-lhe que há dedicações que não infantilizam; só libertam. Permita-me dizer-lhe que há pais que não se perdem no filho; ao invés, encontram-se nele, descobrem uma dimensão que não sabiam ter.
Falo apenas por mim. Eu sou dependente de quem amo. É um dos maiores orgulhos. Cada pai, cada indivíduo, tem a sua geografia emocional. Para mim, colocar o filho no centro não é um acto de baixa autoestima, não é uma desistência de mim; é o perfeito oposto: foi o que me obrigou a crescer quando tudo em mim queria encolher, foi o que me deu forma quando a doença do meu menino me mostrou abruptamente o abismo, foi o que me manteve inteiro quando perdi o meu pai. Amar o meu filho acima de tudo não me apagou; salvou-me. Não me tornou menos pessoa; tornou-me alguém que sabia por onde caminhar. O amor pelo meu filho não é uma fuga; é um farol. Quando me dou inteiramente a ele, não me dissolvo. A presença dele não é um disfarce para a minha ausência de mim mesmo; é uma razão para eu existir ainda mais; mas com mais lucidez, com mais coragem, com mais verdade, com mais profundidade.
Um pai que ama assim, inteiro, não é um pai que invade; é um pai que ampara. Dá-lhe a segurança de saber que não está sozinho no mundo, a coragem de experimentar, de errar, de criar raízes próprias. A presença intensa de um pai não o diminui; oferece-lhe chão, oferece-lhe a possibilidade de ser um dia alguém que sabe amar com igual profundidade. Não o paralisa; torna-o maior, expande-o. Um filho que cresce com amor firme aprende a confiar no mundo antes de o conhecer. Acredito que é esse o maior presente que um pai pode deixar.
Acho que entendo o seu alerta: há pais que se afogam no papel de pais e deixam de ser humanos. Deixo-lhe aqui a nota: também há os outros, os que descobrem que amar assim, intensamente, desmedidamente até, não lhes rouba nada; só lhes devolve. Cada pessoa, cada família, saberá qual é a sua fronteira, a sua doçura, a sua sobrevivência, o seu equilíbrio.
Não lhe escrevi para o contrariar. Só quis acrescentar uma nuance: a minha. Eu não vivo pelo meu filho porque não sei viver sem ele; vivo pelo meu filho porque só com ele estou acompanhado.
Com estima verdadeira,
Pedro