15/12/2022
É um filho silencioso…
Não é verdade que os bebés não morram. Morrem! E, às vezes, morrem, mesmo, antes de chegarem a nascer. E não é verdade que aí morra só um bocadinho da mãe. Morre uma parte do pai. Às vezes, morre uma porção imensa da sua relação, que não comporta tanta dor nem a compreende. E morrem pessoas da família, que falharam quando não podiam ter falhado. E morrem amigos. E morre o mundo. Morrem os dias. E morre, até, o direito de imaginar outros bebés. E morrem, para quase sempre, todas as pessoas que não entendem que um filho que morre sem chegar a nascer é um filho. Que trouxe histórias. E coisas piegas e ternas. E trouxe o momento em que de descobriu que ele estava a chegar. E as primeiras botinhas. E as “birras de seda” entre o pai e a mãe a propósito da cor do primeiro babygrow ou da escolha dum nome. E as historietas por se ter guardado aquela notícia só para os pais, como um segredo. E se ter mentido e disfarçado por causa das razões pelas quais se deixou de comer requeijão e outras coisas mais.
Um filho que morre antes de nascer é um filho. Às vezes, silencioso. Em demasia. Mas é um filho. Para sempre. Que se guarda num cantinho do coração. Numa espécie de arrecadação secreta que existe no coração de todas as mães. E que, vezes demais, ninguém entende.