03/05/2025
Sobre o Bullying:
Bullying: não é apenas sobre quem agride e quem sofre
A maioria das conversas sobre bullying tende a centrar-se nas duas figuras principais: o agressor e a vítima. No entanto, essa abordagem é limitada. Para compreender verdadeiramente o fenómeno do bullying — e, mais importante ainda, para o prevenir ou enfrentar de forma eficaz — é crucial olhar para todo o contexto relacional onde ele ocorre.
O bullying é um comportamento repetido, intencional e sustentado por relações de poder desequilibradas. E este desequilíbrio é muitas vezes reforçado, tolerado ou perpetuado pelas pessoas que assistem, pelos adultos responsáveis e, de forma mais ampla, pela própria sociedade.
- Espectadores: quem vê, influencia
Os colegas que estão presentes quando alguém é vítima de bullying não são meros observadores passivos. Têm um papel ativo, mesmo que não digam ou façam nada. O riso, o silêncio, o afastamento ou a negação do que se passa podem ser interpretados como aceitação ou até apoio implícito ao agressor.
Por outro lado, quando os espectadores se posicionam de forma clara — procurando ajuda, apoiando a vítima, mostrando que não concordam com a violência —, contribuem decisivamente para quebrar o ciclo do bullying. Estes gestos não precisam de ser heroicos: basta que sejam firmes, empáticos e consistentes.
Educar os jovens para a consciência crítica, a empatia e a responsabilidade social é essencial para que se sintam capazes e motivados a agir quando presenciam situações de injustiça.
- O papel dos adultos: mais do que supervisionar, é preciso educar
Pais, professores, auxiliares, técnicos e cuidadores exercem uma influência determinante. A sua presença, atitudes e linguagem são modelos constantes para as crianças e adolescentes. Quando os adultos reagem de forma coerente, firme e empática a situações de bullying, estão a ensinar — por ação — que o respeito mútuo e a dignidade de cada pessoa são valores inegociáveis.
No entanto, quando a reação é de indiferença, minimização ou desresponsabilização (“são coisas de miúdos”, “é só brincadeira”, "no meu tempo resolviamos isso facilmente"), o impacto pode ser o oposto: a criança aprende que não vale a pena pedir ajuda ou que o comportamento agressivo é socialmente aceite.
- A influência da sociedade: o que normalizamos ensina mais do que o que dizemos
Vivemos tempos marcados por uma crescente polarização, agressividade e intolerância no discurso público e nas redes sociais. Quando o confronto substitui o diálogo, quando o insulto é legitimado como opinião e quando as diferenças são vistas como ameaça, as mensagens que chegam aos mais jovens são preocupantes.
As crianças e os adolescentes crescem num mundo onde as palavras circulam rapidamente e os exemplos se multiplicam. E muitas vezes, aprendem com esses exemplos — mesmo quando estes não são positivos.
A sociedade, enquanto conjunto de normas, valores e práticas partilhadas, tem a responsabilidade de criar um ambiente educativo alargado, onde a empatia, a justiça e o respeito pela diversidade sejam promovidos em todos os contextos: na escola, em casa, nos meios de comunicação, nos espaços digitais e nas interações do dia a dia.
- Uma responsabilidade de todos: construir uma cultura de respeito
Combater o bullying não é apenas tarefa de psicólogos ou professores. É uma responsabilidade partilhada por toda a comunidade. Só com uma abordagem integrada e coerente, que envolva crianças, jovens, adultos e instituições, será possível prevenir comportamentos abusivos e promover relações mais saudáveis.
É através do exemplo que se educa. E o exemplo constrói-se todos os dias — na forma como nos tratamos, como reagimos às injustiças, como falamos sobre os outros, como educamos para a diferença.
A mudança não acontece apenas nos discursos — acontece nas atitudes, nas pequenas ações e na consistência dos valores que transmitimos.
Porque educar para o respeito é, acima de tudo, uma forma de cuidar da saúde emocional, relacional e social de todos.
Catarina Homem da Costa
Psicóloga Clínica