03/11/2025
Isto tudo ❤️
— Às cinco, Pedro?
— Não posso, vou buscar o meu filho.
— Mas é só uma hora.
— É. E é a melhor hora da minha vida.
Estamos com as ideias todas trocadas. Acontece muitas vezes. Convidam-me para um evento à semana. O horário impede-me de ir buscar o Benjamim à escola. Explico isso. Pergunto se não pode ser num horário diferente, mais ao começo da tarde. Explico porquê. A resposta é um sorriso, um desvalorizar do motivo. Se eu dissesse que tinha uma reunião não haveria esta reacção. Como se uma reunião fosse mais importante do que ir buscar o meu filho à escola. Estamos com as ideias todas trocadas. Não olhamos para a rotina como o maior milagre. Não olhamos para aqueles momentos em que esperamos um filho à saída da escola como os mais importantes da nossa existência. São. São esses.
A vida não é um escritório. O que não cabe numa agenda é tratado como irrelevante, fala-se de produtividade como se fosse uma virtude absoluta. A ternura e o amor são interrupções. A lentidão é suspeita. Um pai que quer ir buscar o filho é um homem que não sabe gerir o tempo. Vejo ao contrário: a rotina é o único milagre que nos resta. A previsibilidade dos gestos, a repetição dos dias, o reencontro à saída das aulas, o aplauso eufórico no final do escorrega. Estamos com as ideias todas trocadas. Estamos perdidos. Ser pai não tem de exigir justificação. Transformámos o amor num contratempo. Damos-lhe o nome de maturidade. Acho que o apocalipse já aconteceu. Chamamos-lhe eficiência.
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O HOSPITAL DE ALFACES
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