02/09/2025
Amanhã,o Benjamim regressa às aulas. Vai para o primeiro ano. A escola é a mesma; o peso mudou. Ele sabe. Nós sabemos. A infância tem uma crueldade: parece leve, mas carrega responsabilidades que a vida se diverte a atirar-nos demasiado cedo. Tudo se aperta em mim ao ver-lhe a ansiedade. Já lhe conheço a coragem incomparável; custa sempre ver o nosso filho a ter de a usar.
Hoje teve ajuda. Um Monstrinho das Preocupações, enviado pela twinklelittlestore.com, engoliu quatro medos que ele confessou. Foram quatro angústias pequenas no papel; gigantes na cabeça. O fecho da boca do monstro abriu-lhe espaço por dentro. A psicologia chama-lhe externalizar a dor; eu chamo-lhe milagre: transformar medos em papel, entregá-los a um boneco. A filosofia chama-lhe símbolo; a vida chama-lhe sobrevivência. Por estes dias, não há nada mais importante no mundo, para mim, do que a forma como a minha criança aprende a lidar com o seu tormento particular.
O Monstro das Preocupações é um ritual. Os rituais, quando bem feitos, são a única tecnologia espiritual que funciona. Nomear o medo é começar a vencê-lo. Guardá-lo fora de nós é sobreviver-lhe.
Amanhã, o Benjamim não vai estar sozinho: vai levar consigo algo que muitos adultos ainda não aprenderam: o medo pode ser entregue, guardado, deixado para trás, integrado num lugar que nos deixe respirar. Crescer não é matar o medo; é encontrar-lhe um lugar seguro onde não nos destrua.