Psiquiatria e saude Mental

Psiquiatria e saude Mental Psiquiatria e saúde mental segundo a perspetiva de Saturnino Silva Médico Psiquiatra

23/11/2024
01/07/2022
15/05/2018

ESQUIZOFRENIA O QUE O MÉDICO FAMILIA NÃO DEVE FAZER
QUEM SABE DE ESQUIZOFRENIA SABE DE PSIQUIATRIA! PEDRO POLONIO Imprescindível saber psicopatologia com profundidade para seguir esta doença
O QUE É A ESQUIZOFRENIA?
• UMA DOENÇA ORGANICA ENCEFALICA QUE SE CARACTERIZA: • UMA ALTERAÇÃO PROFUNDA E PROGRESSIVA DA PERSONALIDADE QUE DEIXA DE CONSTRUIR O SEU MUNDO EM RELAÇÃO COM OS OUTROS PARA SE PERDER NUM CAOS AUTÍSTICO ISTO É UM MUNDO IMAGINARIO. • CONSEQUENTEMENTE O DOENTE TEM UMAS COORDENADAS DA REALIDADE DIFERENTES DA NOSSAS
Hipóteses de etiologia
• Constituição genética • Meio ambiente: • Intrauterino (neuro desenvolvimento) • Traumatismos peri natais • Infecções perinatais etc etc • Teoria dopaminérgica as dr**as desencadeadoras da psicose) • Alterações estruturais (lobos temporais, sobretudo hipocampo e giro para-hipocampal. Diminuições de volume em áreas frontais, tálamo, gânglios da base)
Desregulação Dopaminérgica:
Sintomas positivoS RESULTAM Aumento da libertação sub-cortical de dopamina(via mesolímbica) Sintomas negativos RESULTAM -Hipoactividade dopaminérgicana Via mesocortical

EPIDEMIOLOGIA
Biotipo
60ª 70% São leptossómicos 10 a 15% São pícnicos 15 a 20% são Atléticos
Psicotipo
40 a 60% são esquizóides 1% da população tem ou vai ter esquizofrenia 5 a 10% têm 1 pai esquizofrénico 10% de irmãos Vão ter 10 a 15% de filhos esquizofrénicos Se os 2 pais são esquizofrénicos probalidade de ter filhos esq é de 20a 40% 40 a 60% de concordância nos gémeos homozigóticos 10 a 15% nos dizigóticos Em casais esquizofrénicos que adoptam crianças a percentagem do aparecimento de esquizofrenia é igual a da população em geral

Como começa a esquizofrenia
• Normalmente apos a puberdade e em jovens adultos • Pode no entanto aparecer em qualquer idade • Nas crianças: Problemática da atitude clínica • Sintomas pré mórbidos e Sintomas prodrómicos • Tratar ou não tratar ?
SINTOMAS PREMORBIDOS
Tranquilos, pasivos e introvertidos; na infancia têm poucos ou nenhuns amigos Adolescentes: Não têm amizades próximas, evitam integrar-se em grupos, trastorno obsesivo compulsivo. Sinais iniciais O paciente queixa-se de cefaleias, mialgias, dorsalgias, debilidade e problemas digestivos. Diagnostico inicial: Síndrome de fatiga crónica o trastorno de somatización Ideas abstractas, esoterismo. Otros sinais e síntomas: Comportamientos estranhos, linguagem desorganizada, ideas estranhas e experiencias perceptivas incongruentes.

FASE PRODRÓMICA
• SINTOMAS PSICOTICOS ATENUADOS • Ideias de referencia • Pensamentos extravagantes ou mágicos não consistentes com om contexto cultural • Alteraçõeses perceptivas • Ilusões corporais

• Sintomas psicóticos breves e transitórios • Alucinaçoes • Delirios • Desorganização do pensamento • De forma transitória entre minutos ate uma semana
Sintomas psicóticos negativos até 3 anos
Apatia

Anedonia

Retração social

Pobreza de linguagem

Afectos restringidos

Síntomas de primeira orden de K. Schneider Sonorização do pensamento a audição de vozes em forma de dialogo A audição de vozes comentando a actividade As vivencias de influencia corporal O roubo do pensamiento Difusión del pensamiento A percepção delirante O fabricado por outro no campo da vontade, impulsos e sensações
Sintomatologia S. positivos • Delírios (delirio esquizofrenico) • Alucinações(aluc. Esq)

S. afectivos Embotamento Afecto inadequado Humor deprimido Angustia
• sint negativos • Anedonia(perda de prazer) • abulia apatia • inibição social • Auto cuidados SINT COGNITIVOS POBREZA DE PENSAMENTO DFICULDADE DE ABSTRAÇÃO DIFICULDADE DE ATENÇÃO MEMORIA DE TRABALHO


Curso Natural Da Esquizofrenia

TERAPÊUTICA
ANTIPSICOTICOS TÍPICOS Cloropromazina(Largactil Ciamemazina(Tercian®) Haloperidol(Haldol®) Flufenazina(Anatensol Zuclopentixol(Cisordinol) Flupentixol(Fluanxol Medicação depot
• ANTIPSICOTICOS ATÍPICOS • Clozapina • Risperidona • Olanzapina • Quetiapina • Ziprazidona • Aripiprazol • Paliperidona • Madicação depot





PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL NO SENTIDO: DA ADESÃO Á TERAPÊUTICA

NA SOCIALIZAÇÃO DO DOENTE

DA OCUPAÇÃO EM ACTIVIDADES PARA QUE AINDA TENHA APTIDÕES

NA CONSCIENTIZAÇÃO DA DOENÇA

INTERVENÇÃO NA FAMÍLIA:

NA ACEITAÇÃO DA DOENÇA

NAS EMOÇÕES EXPRESSAS

NA RESILIÊNCIA DAS CAPACIDADES PERDIDAS



INTERVENÇÃO PSICO-SOCIAL
ESQUIZOFRENIA

QUEM SABE DE ESQUIZOFRENIA SABE DE PSIQUIATRIA! PEDRO POLONIO Não se pode falar uma língua sem saber os vocábulos É Imprescindível saber psicopatologia com profundidade para seguir esta doença ---------------------------------------------------------- Dadas as limitações em tempo e de conhecimentos profundos de psicopatologia dos MF, sou de opinião que esta patologia psiquiátrica devera ser exclusivamente acompanhada por psiquiatra ou sob controle apertado do mesmo e não em roda livre

11/10/2016

A propósito da entrevista sobre a Saúde Mental publicada no DN local a 10/10/ 2016

Reproduzirei um artigo que publiquei no DN há cerca de 9 anos e que me parece ter toda a actualidade, mas antes ocorre-me fazer algumas perguntas.

-Porque é que a Saúde Mental desde que eu escrevi este artigo até agora tem vindo continuamente a piorar?

-Não existem neste momento oito psiquiatras activos na Região e três pedopsiquiatras? Pelos vistos cumprimos o rácio do número de psiquiatras por habitante nesta Região.

- Porque é que os psiquiatras chegam à Madeira, vão trabalhar para o público e algum tempo depois saem para trabalhar exclusivamente nos seus consultórios privados?

- Porque se pretende insistir na mesma política de Saúde Mental, que há sensivelmente catorze anos tem vindo progressivamente a piorar?

-Porque é que os colegas mais jovens não se identificam com os serviços oficiais e à medida que chegam vão conti nuamente abandonando os mesmos?

Se se mantiver o mesmo tipo de política de Saúde Mental, daqui a alguns anos vamos, com certeza, constatar o caos como agora se verificou.

Aqui vai a transcrição do artigo:

Pairando sobre a Saúde Mental

O artigo do Dr. Sales Caldeira

O facto dos suicídios terem quadruplicado

O consumo de álcool ter subido

As orientações estratégicas do Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria do Serviço Regional de Saúde, EPE/2007-2009

O artigo do Dr. Sales Caldeira com o qual concordo e saúdo-o pela sua coragem, foca vários temas, entre eles, o suicídio e a Saúde Mental, o que me desencadeou também o desejo de expressar a minha opinião.

Há cinco anos reformado, passei a ver a Saúde Mental à distância, sem ser interveniente activo nos serviços oficiais, o que naturalmente me dá uma perspectiva mais objectiva da mesma.

Não aspiro a qualquer cargo, benesse ou protagonismo, pois ao longo de mais de 40 anos de actividade chefiei tudo o que era Psiquiatria na RAM. Sou o psiquiatra que há mais anos trabalha nesta Região e vi nascer profissionalmente todos os outros colegas que iniciaram a sua actividade nesta terra.

Orgulho-me de ter deixado a Saúde Mental da RAM muito melhor do que quando a encontrei na década de 60, isto sem qualquer vaidade, pois acho apenas que fiz o meu trabalho

Há cinco anos, após a minha reforma e dentro desta linha de actuação não dei entrevistas nem me pronunciei sobre qualquer problema de Saúde Mental. Disso são testemunhas os senhores jornalistas a quem recusei sucessivamente os seus pedidos de colaboração.

Pensava e penso ainda, que se deve dar lugar aos novos, pelo que fiz o propósito de só intervir se algo de muito errado persistisse e fosse necessário agir a bem dos doentes.

Venho agora à liça, esporadicamente, sem querer criar polémica, porque julgo que algo vai mal e ser minha obrigação ética defender um pouco aqueles que incapacitados pela sua doença mental e segregados pela sociedade, não têm capacidade de lutar pelos seus direitos.

Vamos pois aos factos.

1º Os suicídios quadruplicaram

São várias as causas que levam ao suicídio, mas, a principal, é uma má assistência de Saúde Mental à população, quer queiramos, quer não.

Se repararmos, o índice de suicídios começou a subir a partir do encerramento do Centro de Saúde Mental (CSM).

O CSM encerrou por motivos pessoais inconfessáveis dos dirigentes de então, que nem vale a pena aqui descrever, mas para quem quiser averiguar poderá facilmente chegar a conclusões.

A perseguição ao seu pessoal foi de tal forma, que todos os médicos tiveram processos disciplinares para vergonha da dirigente da saúde de então. O meu, com uma sanção de 400 contos de multa e 30 dias de faltas injustificadas foi anulado pelo tribunal. A consequência de tudo isto foi que depois de ter ficado ilibado e de ter verificado que tinha tempo para a reforma, requeri-a. Quanto aos meus colegas, dois pediram licença sem vencimento de longa duração e um foi para a reforma. As pessoas que moveram a campanha para fecharem o Centro de Saúde Mental puderam avançar para colher os seus despojos, o que para alguns durou pouco tempo.

Com o encerramento do CSM deixaram de se fazer cerca de cinquenta consultas de Psiquiatria diárias, além de outras de psicologia, com as consequências que agora estão à vista.

Por sugestão, com certeza dos psiquiatras que ficaram nos outros serviços passou-se à horizontalização da Psiquiatria, agora oficializada na Orientação Estratégica do Departamento de Saúde Mental, com os resultados patentes: quadruplicação dos suicídios, aumento do alcoolismo, triplicação da apreensão de droga, etc. etc..

2º Problemas ligados ao álcool-(PLA)-(Alcoolismo)

No tempo em que chefiei o CSM foi-me pedido para fazer um plano de combate aos Problemas Ligados ao Álcool (PLA)-(Alcoolismo) que foi efectuado com a colaboração de várias pessoas, entre elas o actual Director do Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria-EPE da RAM, que assinou o relatório, o qual foi entregue ao Governo Regional, mas que eu saiba, nada foi implementado. Esse plano tem medidas que se forem implementadas globalmente baixará os PLA na RAM.

Agora há outra comissão a estudar o problema, mas na página 12 das orientações estratégicas do Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria, no que concerne à intervenção dos PLA, há uma série de medidas avulso que posso garantir, se nada mais for feito do que ali está plasmado, o consumo de álcool na Região não só não vai baixar, mas continuará a subir, a manterem-se os parâmetros actuais.

3º Orientações Estratégicas/2007-2009 do Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria do Serviço Regional de Saúde, EPE

Fui convocado para ir à reunião extraordinária do Conselho Regional de Saúde Mental, como representante da AFARAM–Associação de Familiares e Amigos do Doente Mental da RAM.

O documento a ser discutido foi-me distribuído uma semana antes e não três meses, como me foi dito que tinha estado em discussão.

Sobre este documento oferece-me dizer o seguinte:

1º É um documento ambicioso que se encontra em qualquer manual de higiene e saúde mental da OMS ou outra, só que não está, nem de longe, nem de perto, minimamente adaptada à região. Se não, vejamos:

1 Quantos psiquiatras existem a trabalhar presentemente no Departamento de Psiquiatria do hospital? Dois, que trabalham em horário completo, vão a duas Casas de Saúde Psiquiátricas privadas tratar os doentes internados, têm consultórios privados e fazem urgência quinze dias por mês. Fazem consultas externas no hospital e vão às enfermarias ver os doentes internados nos hospitais públicos! Deverão teoricamente dar assistência à toxicodependência (vão a Santiago?), fazem consulta de alcoologia, etc.. Poderiam já existir quatro psiquiatras no serviço. Os outros dois que pediram licença sem vencimento trabalham na privada, possivelmente por não se terem revisto no serviço ou por qualquer outra razão.

2º Existem três pedopsiquiatras, duas das quais a trabalharem em dedicação exclusiva, que fazem um trabalho meritório, mas que obviamente também não chegam para as encomendas.

3º O documento insiste na horizontalização dos cuidados com dois psiquiatras ao serviço, mas em cinco anos de experiência, já feitos, de forma não referida e experimental, os suicídios quadruplicaram, o consumo de álcool subiu, as apreensões de droga triplicaram e o número de doentes internados mantém-se sensivelmente estável, apesar dos recursos terapêuticos existentes serem mais efectivos. Continuem assim! Daqui a dois anos veremos!

4º O documento não parte dum estudo prévio sobre o estado da Saúde Mental feito por uma entidade psiquiátrica independente.

5º Não pode ser o próprio departamento a avaliar a sua própria actividade, mas sim uma entidade ligada à Psiquiatria e exterior à Região.

6º Não poderá ser o próprio departamento a estabelecer parcerias com outros serviços, mas sim os superiores hierárquicos do Director.

7º Há que acabar com a tentação das pessoas avidamente quererem fechar os círculos, pois dá sempre mau resultado e os doentes são os prejudicados.

8º Os médicos e os planos fazem-se para servirem os doentes e não para servirem os técnicos.

9º Com os técnicos existentes neste momento, a única preocupação que deveria existir era dar resposta às inúmeras consultas que estão em lista de espera. Não me venham dizer que em Coimbra há uma lista de espera de dois meses, pois o Dr. Horácio Firmino confirmou-me no último Congresso Nacional de Psiquiatria que ele próprio faz a selecção dos doentes e desde que se confirme a necessidade (não urgência, esta é imediata), os doentes são vistos em 24 horas.

Em Santa Maria existem vagas diariamente.

No extinto CSM existiam vagas diárias para os doentes que lá chegassem sem marcação.

As perícias médico legais no tempo do CSM raramente excediam um mês de espera!

10º Que dizer de todas as outras fantasias com estes recursos humanos? O leitor já se apercebeu que nem vale a pena perder mais tempo.

11º Como podem dois médicos psiquiatras, três, quatro ou mesmo cinco, cumprirem aquele plano megalómano apresentado? Em dois anos! Façam favor não brinquem comigo! Muito menos com o dinheiro dos contribuintes!

É necessário olhar para o sofrimento das pessoas e não se perder em utopias!

No Conselho Regional estavam presentes, para além do Sr. Secretário, três médicos. Dois votaram contra o plano, um deles foi eu, que o apelidei com toda a consideração que tenho pelo meu colega, de megalómano e narcísico.

Tenho a certeza que dentro destes parâmetros, não estou enganado e deixo aqui um repto. Implementar este plano custa muito dinheiro aos contribuintes. Se o mesmo não apresentar resultados positivos numa avaliação independente daqui a dois anos, então nada mais restará aos responsáveis da Saúde Mental senão pedirem a demissão.

Tudo isto seria evitado se, como diz o Dr. Sales Caldeira, este país não sofresse de novo riquismo e não se ignorasse a experiência e saber dos psiquiatras seniores, ignorando-os e apagando-os como se de programas de computador se tratassem. Se a sua ajuda fosse solicitada, embora reformados e sem qualquer interesse económico ou de protagonismo, talvez aceitassem ajudar e a Saúde Mental poderia sair beneficiada.

Por favor sentem-se atrás duma secretária e tratem os doentes, que foi para isso que se fizeram médicos!

E por aqui fico sem querer polémica.

Saturnino

11/05/2015

Colocando os pontos nos iii em relação aos problemas ligados ao álcool
(Alcoolismo, dependência alcoólica, etc.)
O autor declara que bebe moderadamente em ocasiões especiais e acha que o álcool pode ser uma fonte de prazer quando bebido com muita sobriedade
Neste último mês e a propósito da nova lei do álcool, têm proliferado artigos e opiniões acerca dos problemas ligados ao álcool (PLA) e a forma de diminuir o consumo excessivo do mesmo no país e em especial na ilha da Madeira.
No século XIX a Madeira era considerada a ilha da aguardente e os médicos militares que aqui se deslocavam para inspeccionar os mancebos referiam-se aos mesmos como debilitados física e psiquicamente.
Feliz ou infelizmente a Madeira é uma região onde se produz um dos melhores vinhos do Mundo. Já Cadamosto, navegador veneziano o dizia. Foi também uma grande produtora de açúcar. Actualmente ainda produz quantidades apreciáveis de aguardente de cana e de bagaço de uva, quer de forma legal e que pode ser contabilizada, quer duma forma doméstica, esta não contabilizada, mas que no dizer dum abalizado engenheiro agrónomo da Região e muito conhecedor da realidade rural ligado a estes problemas, ascende a mais de 50 destilarias particulares.
Quando cheguei a esta Região em 1969 tomei conhecimento de perto do flagelo dos problemas ligados ao álcool e desde logo propus-me a estudá-lo de forma sistemática.
Nessa época, as pessoas dependentes do álcool não eram reconhecidas como doentes, mas sim como viciados e a doença alcoólica não era reconhecida como tal, mas sim considerada um vício, como ainda no dia 19 de Abril de 2015, na página 8 do DN se refere que “quase 300 pessoas em 2012 deixaram o vício e 5 morreram devido ao abuso de álcool”.
Felizmente, duma forma geral, hoje já se considera que a dependência alcoólica é uma doença que tem tratamento e que a prevenção dos problemas ligados ao álcool, sendo a doença alcoólica um deles, pode efectivamente ser concretizada, como demonstram a diminuição dos consumos de álcool em vários países da Europa e do Mundo, que para tal aplicaram programas devidamente estruturados e com a eficácia demonstrada por vários autores.
Todas as classificações internacionais de doenças consideram a dependência do álcool como tal.
O primeiro estudo que fiz na Região acerca do consumo de álcool por ano e per capita juntamente com a drª Josefa Neves, então directora regional de estatística, revelava-nos que os madeirenses ingeriam cerca de 11 litros de álcool puro por ano e per capita.
Na RAM consome-se cerca de 10 a 11 litros de álcool por ano e per capita (Saturnino, 1994).
Consome-se cerca de 5 vezes a dose óptima estabelecida para uma população beber (Skog, 1992).
Os custos sociais deste nível de consumo são aproximadamente cerca de 6% DO PRB
A percentagem de internamentos devidos aos PLA em Hospitais Psiquiátricos na RAM em 1990, a nível do s**o masculino, atingiu os 50%.
Problemas como a violência familiar, acidentes rodoviários, acidentes de trabalho, absentismo, demissões, desemprego, dívidas, aumento da criminalidade, diminuição das performances no trabalho e da esperança de vida, estão relacionados directamente com o consumo de álcool.
Existia cerca de 1 estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas por cerca de 100 ..120 habitantes em 1999.
A OMS tolera 1 para 3000 habitantes!

Ao longo de 30 anos observei e participei em muitas campanhas de combate à dependência alcoólica deslocando-me a várias escolas, estabelecimentos militares e policiais para falar sobre as consequências nefastas do álcool, ajudei a fundar o Centro de Recuperação de Alcoólicos, a Sociedade Anti-alcoólica da Madeira, etc., etc., cujo resultado foi praticamente zero em termos de consumo de álcool por ano e per capita. Tratamos os doentes, tornam-se abstinentes, mas o número dos mesmos continua idêntico e o consumo de álcool na RAM não baixa significativamente. Reformado há mais de dez anos da função pública, continuo a tratar doentes no meu consultório e não noto qualquer diminuição dos PLA. Os doentes melhoram, tornam-se abstinentes mas são logo substituídos por outros mais novos que ocupam o seu lugar. Isto está demonstrado, segundo li, nas últimas estatísticas de doentes alcoólicos internados no Centro de Recuperação de Alcoólicos Frei Ricardo Pampuri (CRAFRP), na Casa de Saúde S. João de Deus, Trapiche, que ronda anualmente cerca de 1 admissão diária.
Tecnicamente está demonstrado que, após o indivíduo iniciar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, os primeiros sintomas visíveis da doença alcoólica aparecem cerca de dez anos depois, (time-lag) razão pela qual os doentes que se tornam abstinentes são logo substituídos por outros que continuavam a beber sem sintomas e que posteriormente começam a manifestarem-se, procurando ajuda.
A indústria de bebidas alcoólicas é uma actividade economicamente muito poderosa e capaz de influenciar de forma directa ou indirecta os políticos. Recordo-me a propósito, que uma vez a falar com um político muito influente nesta Região, abordei o problema do álcool e citei uma série de inconvenientes e consequências que a Madeira tinha pelo seu consumo exagerado. Esse político afirmou-me que não tinha conhecimento desse problema na ilha. Disse-lhe então que no dia seguinte lhe enviaria uma cópia dum artigo que ia publicar, onde se demonstrava o exagerado consumo de bebidas alcoólicas na RAM. Assim o fiz e o referido político dois ou três dias depois enviou-me um cartão muito gentil elogiando o trabalho e no fim, em quase nota de rodapé, afirmava que tinha decidido dar-lhe a classificação de confidencial. Escusado será dizer que, no dia seguinte, mandei os dados que tinha no artigo para a comunicação social e publiquei posteriormente o mesmo em revista da especialidade.
Na época em que me dediquei a estas peregrinações anti-alcoólicas pela Região, ainda desconhecia, porque também alguns não existiam, os trabalhos publicados sobre experiências feitas em vários locais que fizeram efectivamente baixar o consumo de álcool por ano e per capita nos respectivos países.
É com certo desgosto que vejo proliferar gente bem-intencionada a ter iniciativas individuais para combater os PLA, que para além de consumirem recursos, estão invariavelmente condenadas ao insucesso em termos de diminuição dos mesmos.
Como com o passar dos anos tornei- me conhecido, passaram a chamar-me para tudo o que era sítio para dar conferências ou entrevistas aos meios de comunicação social, ao que sempre acedi e acabei por marcar uma posição que mais adiante definirei.
Em determinado momento, a directora regional da saúde pediu-me que constituísse uma equipa para apresentar-lhe um relatório com medidas específicas para diminuir o consumo de álcool na Madeira. Na altura disse-lhe que era uma perda de tempo visto que ela não teria capacidade de aplicar as medidas que são preconizadas pela OMS e pelos maiores peritos mundiais em PLA. Retorquiu-me que estava empenhada nesse assunto e que poderia ter a certeza que aquilo que nós tecnicamente disséssemos ela iria aplicar.
A equipa foi constituída por mim, que presidi, e por representantes das várias secretarias regionais, da polícia, do ministério público e das associações anti-alcoólicas. Depois de elaborado, o relatório foi apresentado e elogiado. Foi prometido que iria ser aplicado, só que, como eu previ, ficou na gaveta, presumo eu que em consequência do interesse no lugar que ocupava ser maior do que o combate a este flagelo que assola a Região.
Passados mais de 40 anos de actividade nesta Região, o que é que constato?
O consumo de álcool mantém-se, com pequenas oscilações, idêntico ao de quando eu cá cheguei.
O número de pessoas a procurar ajuda para os seus PLA mantém-se sensivelmente o mesmo neste lapso de tempo.
O acesso ao álcool está cada vez mais facilitado e os pontos de venda são mais que muitos. A Madeira tem cerca de 30 vezes mais locais de venda de álcool do que a OMS preconiza.
A moda da poncha e outras bebidas do género está instalada em associação com o incentivo ao cultivo da cana de açúcar e subsequente produção de aguardente.
Desde o séc. XIX praticamente não houve vontade política de atacar o problema sob vários pretextos como: o turismo, a agricultura, a economia etc. etc.
Em suma, tudo aquilo que se fez no capítulo da prevenção primária, isto é, medidas para diminuir o consumo de álcool per capita na população foram ineficazes. O mesmo não se pode dizer da prevenção secundária (tratamento dos doentes) que tem sido bem sucedida, quer nas consultas de Psiquiatria, privadas ou públicas, assim como no CRAFRP, na Casa de Saúde S. João de Deus.
Na prevenção terciária (reabilitação dos danos causados pelo álcool), as associações anti-alcoólicas têm tido um papel de relevo.
Para que uma política no sentido de baixar o consumo numa região ou país tenha êxito, são necessárias várias medidas que deverão ser aplicadas em conjunto e simultaneamente. Daí que esta última medida da proibição de venda a menores de cerveja e vinho e não o consumo, seja perfeitamente anedótica e quem a promulgou deve querer que o zé povinho pense que os políticos estão interessados em resolver os PLA.
Passarei a enumerar as medidas, embora muito resumidamente, que se forem aplicadas em simultâneo resultarão na diminuição significativa do consumo de álcool por ano e per capita, como ficou demonstrado em vários países onde foram aplicadas e onde existia vontade política para o fazer. Se assim não for feito, como tenho dito repetidamente a vários dirigentes da saúde, sentar-me-ei e esperarei para três ou quatro anos para depois verificar que o consumo mantém-se idêntico. Pena é que os directores regionais e secretários por vezes já não estejam no cargo político.
Não agir de forma preconizada é brincar com a saúde do povo.
Compete aos políticos a aplicação das medidas que se seguem:
MEDIDAS EFICAZES DE COMBATE AOS PLA, SE APLICADAS EM CONJUNTO
FACTORES A TER EM CONTA NA PREVENÇÃO PRIMÁRIA
Produção
Quanto maior a produção, maior o consumo.
Preço
O álcool tem elasticidade de preço.
O preço do álcool sobe, o consumo desce.
O preço do álcool desce, o consumo sobe.
Medidas tendentes a diminuir o acesso ao álcool
Densidade dos pontos de venda
O aumento de 10% dos postos de venda faz aumentar o consumo de álcool per capita na população, de 1% (Wilkinson 1987), (Watts e Rabow 1983).
A Região Autónoma da Madeira tem cerca de trinta vezes mais pontos de venda do que deveria ter (1 para 103 contra 1 para 3000 tolerados pela OMS) no meu último trabalho.
Cumprir a lei no que respeita às destilarias clandestinas.
Bebidas de baixo teor alcoólico
A disponibilidade de bebidas alcoólicas de baixo teor só faz baixar o consumo de álcool, desde que essas sejam mais baratas que as outras.
Horários
Quanto maior for o período de abertura, maior o consumo e maior os PLA (Smith 1987/1988).
Idade legal para ingestão de bebidas alcoólicas
Quando sobe a idade, diminui os acidentes de tráfego. Quando desce a idade, aumentam os acidentes de tráfego (USA General Accounting Office 1984/1987).
Formação dos servidores de bebidas alcoólicas
A formação consciente, nos USA e na Austrália, dos indivíduos que vendem bebidas alcoólicas, fez baixar os acidentes de tráfego nessas zonas em 50% (Russ e Geller 1993).
Responsabilização e criminalização dos vendedores de bebidas alcoólicas a embriagados
A responsabilização destes agentes em determinadas zonas dos USA, fez baixar o número de acidentes de tráfego de 6,5% para 5,3%.
Segurança Pública e ingestão de álcool em certos contextos
Quanto mais probabilidades tiver o condutor de ser apanhado e mais rapidamente for aplicada a sanção, mais eficácia terão as medidas (Gibbes 1975 e Beyleveld 1979).
Quanto mais severa for a sanção, (inibição de conduzir) maior a dissuasão (Ross 1982 e Andenais 1983).
As operações Stop para controlo de alcoolémia deverão ser aparatosas para que todos se apercebam do que se está a passar.
Os resultados destas medidas aplicadas na Austrália onde cada polícia dedicava uma hora do seu serviço diário ao controlo aleatório da alcoolémia dos condutores e a probabilidade de cada condutor ser fiscalizado era de 50% ao ano, resultou que durante um ano os acidentes mortais baixaram 22% e a totalidade dos acidentes baixaram 36% (Arthurson 1985 e Homol 1988). Ross e Salutin em 1980, Voas em 1982, Wilsom em 1983, Williams e Lund em 1984, obtiveram resultados idênticos na Inglaterra. Quantos alcoómetros tem a PSP na Região?...
EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO:
MEDIDAS SOBRE ESTILOS DE CONSUMO E REGRAS CULTURAIS ACERCA DO ÁLCOOL
Informar e formar as populações para estilos de vida saudáveis promotores da saúde em geral e da saúde mental em particular.
Sensibilizar as populações para a mudança de comportamentos relativos ao consumo de bebidas alcoólicas, optando pela não ingestão destas.
Reduzir, através da melhoria de conhecimentos e de acções favoráveis às melhores opções para a saúde, a incidência de problemas ligados ao álcool.
Isto porque, quando a informação e a educação são bem desenvolvidas (MELLO, 1988), todas as restantes medidas propostas neste documento encontrarão um público já sensibilizado para o assunto, sendo por isso, naturalmente mais eficazes na redução dos PLA.
Temos novos governantes, faço votos que olhem para este problema que consome imensos recursos económicos e que deverá ser o principal problema de saúde publica da RAM
Saturnino Figueira da Silva
Médico psiquiatra

08/12/2014

Psiquiatria e saúde mental segundo a perspetiva de Saturnino Silva Médico Psiquiatra

08/12/2014

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