30/05/2025
METAMORFOSE é também saber pausar.
Não tenho tido presença no mundo exterior como planeado.
Estou a atravessar tempestades épicas que exigem escuta e observação do universo interno — vasto, rico e intenso.
Rico porque, apesar de visitar camadas profundas e dolorosas, é um convite à transformação primordial para, depois, levantar mais leve, sanada e sofisticada.
Uma pausa à beira-mar ou estirada na espreguiçadeira não significa estar parada. Há vida interna, pensamentos, emoções e tantas coisas invisíveis, de origens indizíveis, a organizarem-se nas devidas gavetas.
Quando alcançamos um deserto árido, sabemos que cada paragem — que aos olhos do mundo pode parecer preguiça — é, na verdade, um estado de soberania pessoal. Um chamado ao equilíbrio para acertar contas connosco.
Não se exija por pausas que o corpo e a alma pedem para regenerar. Eles são sábios, só que nem sempre sabemos escutá-los, pelo menos para quem agora começou.
Nos últimos anos deixei de ser produtiva. Isso assusta! Passei a vida cheia de tarefas, muitas vezes obrigatórias, e porque o sistema sempre foi esse. Hoje descubro que era uma mentira!
Estou a ajustar-me aos ciclos da alma, diferentes do relógio coletivo, únicos e individuais.
Aprender esses ciclos é confuso e, no início, não sabemos para onde vamos. Dá medo! Não temos mapa, nem meta, nem garantia de nada. Zero!!!
Escuro como uma semente que está a germinar debaixo da terra, sem ainda ter visto o sol.
Só sabemos que há dias que não apetece fazer nada, não temos ideias, estamos bloqueados e perdidos.
E estes ciclos podem demorar dias, semanas, meses ou ainda para quem tem missões mais exigentes, anos…
Entrei neste ciclo há 7 anos e o esvaziamento dos papeis que representava é radical.
Pela minha experiência, só tenho uma certeza: não dá para voltar atrás. Já não cabemos nos lugares de onde fomos expulsos. Crescemos e a redoma que decorava o armário partiu. Deixámos de caber lá dentro.
Mas há lugares mais bonitos para onde ir.
Já não queremos a rotina cega e vazia que esgota por dentro, até ao osso, sob pena de nunca descobrirmos nossa essência e vivermos com o prego a fundo a vida que viemos para viver.
Querer versões mais avançadas de nós mesmos implica renunciar ao conforto de relações desgastadas, profissões que já não nos dizem nada, hobbies que perderam sentido, pessoas que deixaram de nos nutrir, e até enfrentar doenças que nos forçam a ir além dos sintomas.
Despir-se e ficar a nú, de frente para nós mesmos, é um grau extremo de vulnerabilidade. Mas é aí que a alquimia acontece e nascem as versões mais autênticas de nós mesmos.
Se estiver numa travessia e ainda não vê luz ao fundo do túnel, pode partilhar comigo esse desconforto.
Metamorfose