25/11/2025
O Jardim da Chuva Silenciosa
Havia uma jovem que carregava dentro de si um jardim. Não era um jardim perfeito — era vivo, real, cheio de caminhos, flores, ervas daninhas e árvores antigas.
Durante muito tempo, esse jardim floresceu com cores vibrantes. Mas, sem que ela percebesse quando começou, uma espécie de chuva silenciosa passou a cair ali dentro.
Essa chuva não era forte o suficiente para derrubar nada, mas também não parava. Era uma tristeza fina, constante, quase invisível para os demais, mas sentida a cada passo que ela dava.
Os dias passavam e o jardim foi-se tornando mais húmido, mais pesado. Algumas flores fecharam-se, outras perderam cor. E a jovem, com medo do que sentia, começou a evitar olhar para o seu próprio jardim — receava que, se o fizesse, a chuva aumentasse.
Até que, um certo dia, ao caminhar cansada, tropeçou numa pequena flor que ainda insistia em crescer. Uma flor discreta, quase escondida, mas teimosa.
Ao vê-la, a jovem percebeu que a chuva não era inimiga. Era apenas um pedido do jardim para ser sentido. A tristeza estava a regar partes dela que tinham ficado secas, partes que precisavam de atenção, mesmo que doesse.
Pela primeira vez, em muito tempo, ela parou.
Colocou a mão no peito.
E em vez de fugir da chuva, deixou-se ficar um instante debaixo dela.
A chuva não aumentou.
Não se transformou em tempestade.
Mas, naquele momento, algo dentro dela mudou: o jardim começou finalmente a respirar.
Ao permitir-se sentir a tristeza, a água já não acumulava nos cantos. Começou a infiltrar-se na terra certa, a nutrir raízes profundas, a limpar o que estava preso há demasiado tempo.
E, lentamente, novos rebentos apareceram — pequenos, tímidos, mas reais.
Com o passar dos dias, a jovem percebeu algo importante:
não era ela que estava a falhar — era o jardim que precisava de chuva para crescer.
E assim, vez após vez, ela foi aprendendo a caminhar no seu jardim, mesmo com chuva. Às vezes ainda tropeçava, às vezes ainda doía, mas agora sabia:
a tristeza, quando é sentida com carinho e sem pressa, transforma-se em espaço.
E nesse espaço, um dia, voltam a nascer as cores.