29/11/2025
Estranha forma de Vida.
A dor do outro não me pertence e nem a minha me pertence.
Nunca conseguimos compreender o sentir do outro. Uma paciente narrava, magoada, como sentia que tinha sido maltratada e chorava amargamente por razões que pareciam problemas de lana caprina, mas, quando lhe referiam a desproporção entre o que sentia e o problema em si, insurgia-se, revoltada, contra a falta de empatia. Ela tem razão porque o outro, por maior que seja o conhecimento que tem da pessoa, nunca consegue entender completamente a dor daquela pessoa, que às vezes, nem o próprio a entende. O nosso sentir é complexo porque se constrói de forma subjetiva, com a participação do nosso mundo interno, dos acontecimentos de vida e da relação com os outros. Ter a veleidade de perceber por completo a dor do outro é ainda mais difícil na longevidade porque participam fatores de mudança da perceção, do pensamento e fragilidade da pessoa. Como canta Amália Rodrigues – “coração independente, coração que não comando, vives perdido entre a gente, teimosamente sangrando”.