A Psicóloga Sara

A Psicóloga Sara https://www.apsicologasara.com/ Ajudo-a(o) a despertar o poder de cura que há em si. Vamos junta(o)s? Olá a todos! Sejam bem-vindos!

No Dia do Psicólogo, resolvi criar esta página com o intuito de poder partilhar com todos a minha caminhada nestas tão nobres “artes” que são a Psicologia e a Psicoterapia. Aqui, poderão descobrir um pouco mais acerca dos grandes temas da psicologia, compreender melhor o que acontece em psicoterapia e conhecer mais do meu trabalho. Irei partilhar algumas coisas do que sei e faço para que outras pessoas também se possam beneficiar com estas partilhas ao longo dos seus caminhos. Através desta página irei também publicar actividades e eventos nos quais participo ou que recomendo. Poderão também encontrar aqui muita informação, credível e validada, que ajude a um maior conhecimento sobre vós mesmos e ao processo de desenvolvimento pessoal. Estão todos convidados a participar e a deixar os vossos comentários e mensagens privadas, que eu terei todo o gosto em responder. Feliz Dia do Psicólogo, queridos!

Vivemos numa cultura que nos ensina cedo que nunca estamos prontas. A mulher é treinada a olhar-se ao espelho não para s...
10/10/2025

Vivemos numa cultura que nos ensina cedo que nunca estamos prontas. A mulher é treinada a olhar-se ao espelho não para se reconhecer, mas para se vigiar. Esta pedagogia da insuficiência não é acidental — é rentável. A indústria da moda, da cosmética, do fitness, até da espiritualidade de Instagram, cresce na medida em que nós diminuímos. A lógica é simples: mulheres inseguras consomem mais.

Enquanto isso, nalgum bar qualquer perto de si, um homem pífio ergue o copo de cerveja como se fosse o cálice sagrado do Olimpo e sente-se um autêntico semi-deus. Simone de Beauvoir não exagerou: “O machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semi-deus diante de uma mulher.” Se tem uma opinião, já é tese. Se tem um emprego, já é herói. Se é pai e muda uma fralda, ui, já tem poderes sobrenaturais.

Mas ora aqui está a ironia cruel: enquanto sentimo-nos sempre a menos, eles sentem-se sempre a mais. O velho contraste, tão bem explanado pela psicanálise, sobre “eles sobram, nós faltamos”. É o que alguns estudos de psicologia social chamam de “overconfidence effect” — a tendência masculina de superestimar as próprias capacidades, mesmo sem lastro de competência. Enquanto isso, nós tropeçamos na chamada síndrome da impostora: mulheres brilhantes, hiperqualificadas, que questionam a toda a hora se merecem sentar-se à mesa, como se o convite tivesse sido um erro administrativo.

E se este vazio que atravessa tanta gente não for um problema individual, mas o sintoma de uma engrenagem maior?

Se o mundo nos quer inseguras e culpadas, a psicoterapia pode ser o lugar onde reaprendemos a ser sujeitos — não objectos. É onde desmontamos a herança cultural da culpa e reconstruímos uma narrativa própria. Trabalhar a auto-estima em psicoterapia não é vaidade: é resistência. Num mundo que lucra com a nossa baixa auto-imagem, aprender a gostar de si é quase um acto de sabotagem económica.

A psicoterapia ajuda-nos a reconhecer os padrões que internalizámos: a exigência desmedida, a auto-crítica corrosiva, a eterna sensação de insuficiência. Ajuda-nos a distinguir a voz própria das vozes impostas. É, em termos psicológicos, um processo de individuação; em termos políticos, um acto de desobediência civil. Porque uma mulher que sabe o seu valor é menos controlável, menos manipulável e menos consumidora compulsiva de “soluções mágicas”.

Nesta crónica que escrevi para a Revista LuxWoman mostro-lhe de que forma ser autêntica, neste mundo, é recusar a lógica de que estamos sempre em falta. É lembrar que somos abundância fecunda, transbordo, sobejo.

O mundo prefere homens pseudo-confiantes a mulheres autênticas porque aqueles mantêm as estruturas intactas, enquanto mulheres autênticas abalam os alicerces. E é por isso que cada passo em direcção ao amor-próprio é um passo mais do que assertivo. É insubmisso.

— A minha crónica deste mês – "Como ser autêntica num mundo que lucra com a nossa insegurança" – está publicada na edição de Outubro da , nas bancas.

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Quem a ensinou que precisava ser útil para ser amada? De onde veio essa ideia de que o descanso é algo a merecer, e não ...
03/10/2025

Quem a ensinou que precisava ser útil para ser amada? De onde veio essa ideia de que o descanso é algo a merecer, e não um direito humano, constitucional, fisiológico, básico, ao nível da água e do sono? Quem é você quando não está a cumprir uma função? O que sente quando diz “não posso” sem precisar justificar? Consegue parar sem sentir culpa?

E se o descanso não for apenas uma pausa entre obrigações, mas um manifesto silencioso? Um gesto político. Um ritual de cura. Uma declaração de independência emocional. Sim, descansar é subversivo. Porque num mundo que lucra com o nosso cansaço, parar é um acto de pura rebeldia. E sim, há culpa. Há desconforto.

E e se eu lhe dissesse que não tem de provar nada? Nem a sua competência, nem a sua força, nem a sua capacidade de aguentar tudo calada e com classe. A única coisa que precisa provar é aquele vinho tinto encorpado, boca redonda, aveludado e com final robusto da prateleira de baixo, uns stilettos que a façam sentir como se pisasse o mundo com o dobro da altura, e aquele vestido que grita “sou deliciosa”, mesmo que o mundo prefira que sejas “discreta”, aquele prazer esquecido.

Na psicoterapia, aprendemos a dar nomes ao que sentimos. A olhar de frente para o vazio que tentamos preencher com listas. A reconstruir o sentido do amor, do descanso, da auto-estima. Aprendemos que não temos de merecer o amor, apenas aceitá-lo. Que o valor não se conquista, reconhece-se. E que o descanso não se agenda no futuro – começa hoje. Vamos para descobrir o que existe para lá da nossa função. Quem somos nós quando ninguém está a aplaudir ou a reprovar. Quando não há metas. Quando não há luta. E sabe o que há?

Nesta crónica que escrevi para a Revista LuxWoman, no fundo, tratei de a relembrar do mais básico: não somos um projecto para ser optimizado. Somos um milagre para ser sentido. E às vezes, o primeiro passo para isso é simplesmente sentar, respirar fundo… Com um copo de vinho na mão. Uns sapatos ridiculamente bonitos nos pés. E a alma, finalmente, descalça.

Agora vá lá, e prove esse vinho. Porque sim, não precisamos provar nada. A não ser roupas, sapatos e vinhos. De preferência descalças, em casa, bustos ao léu, com rímel borrado e o coração em paz.

– A minha crónica para a de Setembro está disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/nao-precisamos-provar-nada-a-nao-ser-roupas-sapatos-e-vinhos/

Durante muito tempo – demasiado tempo – fomos treinadas para nos comportarmos como candidatas eternas a um cargo que já ...
12/09/2025

Durante muito tempo – demasiado tempo – fomos treinadas para nos comportarmos como candidatas eternas a um cargo que já ocupamos: o de seres humanas válidas.

É como se tivéssemos sido inscritas, sem consentimento nem briefing, numa espécie de reality show existencial em que o prémio final seria "o direito a existir sem culpa". Mas atenção: para isso, era preciso provar. Provar muito. Provar tudo. E não me refiro a provar uma tábua de fumados ou aquele tinto do Douro com notas de cacau e redenção. Não, falo de provar valor. Provar amor. Provar que somos suficientes, apesar de. Apesar das olheiras, das dúvidas, dos dias em que não conseguimos ser “mulher maravilha” nem sequer com wi-fi.

Apesar da culpa, do medo, da raiva engolida com sorriso de farmácia. Apesar da criança interior ainda a gritar baixinho: “Não tenho valor...”

E no meio de tanta exigência, esquecemo-nos de uma coisa simples: que o nosso valor não é uma meta – é uma verdade intrínseca.

Só que isso, claro, ninguém nos ensinou. Em vez disso, deram-nos listas. Infinitas listas. Para sermos dignas de descanso, de amor, de admiração, de afecto.

A vida que você quer precisa de um sistema nervoso que não esteja viciado em stress. Sim, isso mesmo. Porque enquanto o seu corpo acreditar que viver em alerta é a única forma de estar segura, vai sabotar tudo o que a aproxima da paz que deseja. Vai rejeitar o descanso com culpa, vai sentir desconforto no silêncio, vai desconfiar do amor que não dói, vai sabotar a leveza por não reconhecer segurança sem tensão. O seu corpo aprendeu que estar ansiosa é estar preparada, que controlar é proteger, que prever é sobreviver. Mas isso que em tempos a protegeu, agora prende-a.

Um sistema nervoso em modo de sobrevivência é óptimo a manter-nos vivas, mas péssimo a deixar-nos viver. Por isso, querida leitora, nesta "rentrée", antes de mudar hábitos, rotinas, relacionamentos ou objectivos, tem de ensinar ao seu corpo que estar em paz não é ser vulnerável.

Tem de fazer as pazes com o descanso, com o prazer sem castigo, com o silêncio que não precisa de ser preenchido com urgências.

Pois é, a rotina cobra, o corpo grita, mas ninguém ouve... Nesta crónica que escrevi para a Revista LuxWoman falo-lhe sobre o esgotamento feminino normalizado — e os sinais que insistimos em ignorar. E se a única medalha que recebemos for uma anemia?

O caminho que quer fazer exige um corpo que saiba estar presente. Porque não é possível criar uma vida livre com um corpo que ainda vive preso.

— A minha crónica deste mês – "Não precisamos provar nada – a não ser roupas, sapatos e vinhos" – está publicada na edição de Setembro da , nas bancas.

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Era uma vez… um beijo roubado. Um beijo que não foi pedido, nem sequer imaginado, mas que nos ensinaram a admirar. A sus...
29/08/2025

Era uma vez… um beijo roubado. Um beijo que não foi pedido, nem sequer imaginado, mas que nos ensinaram a admirar. A suspirar. A desejar. Foi assim, com este gesto camuflado de magia, que começou o encantamento mais tóxico da nossa infância — o feitiço que nos ensinou a confundir invasão com paixão.

Branca de Neve estava inconsciente quando foi beijada. Sim, dormia, vulnerável, e um homem estranho decidiu que o seu amor era suficiente para justificar atravessar-lhe os lábios. Chamaram-lhe príncipe. Chamaram-lhe herói. Nós chamámos-lhe “romântico”. Mas e se olhássemos outra vez, desta vez sem os óculos cor-de-rosa da infância? Talvez víssemos um invasor de corpos, um violador de limites, um homem que não ouviu um “sim” — e mesmo assim avançou. Aurora, a Bela Adormecida, nem sequer sabia que existia um príncipe. Ariel perdeu a voz para conquistar um homem que nunca a escutou. Bela apaixonou-se por alguém que a manteve em cativeiro. E Rapunzel só saiu da torre quando um homem decidiu que sabia o que era melhor para ela.

Todas estas estórias têm algo em comum: mulheres com limites violados e homens glorificados por isso. Porque o que nos foi contado, nos livros, nos desenhos animados, nas músicas e nos gestos à nossa volta, foi que um homem que te invade é um homem apaixonado. Que se ele te persegue, é porque te quer. Que se ele insiste quando tu dizes “não”, é porque o amor não desiste.

É aqui que as estórias encantadas deixam de ser inofensivas. Porque elas não nos ensinaram a amar — ensinaram-nos a suportar. A aguentar. A engolir o silêncio quando o corpo grita. A acreditar que um “não” é o início de um jogo e não o fim de uma escolha.

A psicologia confirma: fomos socializadas para ver sinais de alerta como provas de amor. A insistência como esforço. A possessividade como intensidade. O ciúme como zelo. O controlo como demonstração. E o desconforto? Como preço a pagar por uma história bonita.

Este romantismo da dor está a matar-nos — literal e simbolicamente. Está a ensinar às raparigas que o seu “não” vale menos que o desejo de um homem. Que um beijo sem permissão é uma bênção e não uma bandeira vermelha. Que o desconforto é sinal de intensidade, e não de alarme. Está a criar uma geração de mulheres que duvida do próprio instinto.

Reescrevamos o conto. Deixemos de romantizar o que nos rasga. E, sobretudo, deixemos de aceitar como amor aquilo que sempre foi, apenas e só, violação disfarçada.

– A minha crónica para a Revista LuxWoman de Agosto – "Estórias encantadas ou a romantização das barreiras violadas" – está disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/estorias-encantadas-ou-a-romantizacao-das-barreiras-violadas

11/08/2025

Era uma vez… um beijo roubado. Um beijo que não foi pedido, nem sequer imaginado, mas que nos ensinaram a admirar. A suspirar. A desejar. Foi assim, com este gesto camuflado de magia, que começou o encantamento mais tóxico da nossa infância — o feitiço que nos ensinou a confundir invasão com paixão.

Chamaram-lhe “amor à primeira vista”. Mas esqueceram-se de dizer que ela nem sequer tinha os olhos abertos. Senão vejamos. A Branca de Neve estava inconsciente quando foi beijada. Sim, dormia, vulnerável, e um homem estranho decidiu que o seu amor era suficiente para justificar atravessar-lhe os lábios. Chamaram-lhe príncipe.

Chamaram-lhe herói. Nós chamámos-lhe “romântico”. Mas e se olhássemos outra vez, desta vez sem os óculos cor-de-rosa da infância? Talvez víssemos um invasor de corpos, um violador de limites, um homem que não ouviu um “sim” — e mesmo assim avançou.

Mas não é apenas um beijo. É o primeiro de muitos pequenos atropelos que aprendemos a aceitar com um sorriso colado à vergonha. Porque, às vezes, os sinais de alerta não vêm com sirenes. Vêm disfarçados de adrenalina, de romance, de atenção. A intensidade de um olhar insistente, as mensagens constantes, o ciúme declarado como prova de interesse — tudo isso pode parecer emocionante para quem nunca aprendeu a identificar o que é invasão emocional. Confundimos obsessão com entrega. Chamamos "preocupação" ao controlo, e "zelo" à tentativa de nos moldar. E assim, as primeiras bandeiras vermelhas passam-nos à frente dos olhos pintadas de purpurina. O que parecem ser gestos de amor são, muitas vezes, ensaios de abuso. Pequenas infrações que testam os nossos limites para ver até onde se pode ir. E quando toleradas, elas não desaparecem — agravam-se. São mais do que violações. São presságios. Isto não é ficção — é condicionamento.

Este romantismo da dor está a matar-nos — literal e simbolicamente. Está a ensinar às mulheres a duvidar dos próprios instintos. A viver para agradar. A escolher a aprovação dos outros em vez da sua própria integridade.

Chegou o tempo de rasgar os contos de fadas. De reescrever a narrativa. De ensinar às meninas que o amor não entra sem ser convidado. Que a paixão não justifica o desrespeito. Que quem ama pergunta. Espera. Aceita o “não” com a mesma ternura com que deseja o “sim”. E é tempo também de falar com os rapazes. De os educar a ver consentimento como beleza, e não como obstáculo. A entender que “insistir” não é romântico — é violento. Que não há romantismo na transgressão de fronteiras. Há ego. Há ignorância. Há machismo estrutural.

Diziam-nos que era amor. Mas era só um beijo roubado, uma voz calada, um limite atravessado. As princesas estavam adormecidas — e nós também. O conto é velho, mas a ferida ainda sangra. Aliás, jorra incessante. Basta de dormir sob feitiços que só funcionam contra nós.

— A minha crónica deste mês – "Estórias encantadas ou a romantização das barreiras violadas" – está publicada na edição de Agosto da Revista LuxWoman , já nas bancas.

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Num mundo em que o algoritmo sabe mais de nós do que o nosso terapeuta, manter-se lúcida é quase um acto subversivo. Esp...
30/07/2025

Num mundo em que o algoritmo sabe mais de nós do que o nosso terapeuta, manter-se lúcida é quase um acto subversivo. Especialmente se você for mulher. E mais ainda se você ousar dizer “não” – essa pequena grande palavra que desencadeia tsunamis emocionais em certos e frágeis egos masculinos de vidro.

Quantas mulheres você conhece que vivem com medo? Que olham por cima do ombro? Que mudam o trajecto, ao andar (inseguras) no meio da rua? Que já ouviram ameaças ditas com voz baixa e um sorriso cínico? Que têm medo de terminar um relacionamento não porque amam, mas porque sabem que o preço do fim pode ser a própria vida?

Estamos num tempo em que o feminicídio tornou-se numa rotina de noticiário. E o mais assustador: banalizou-se. E o problema não é uma sensação vaga. É real, é quantificável, e tem nome: violência doméstica.

A liberdade feminina ainda custa vidas. E depois vem o insulto final: chamam-nos loucas. Loucas? Louco é o mundo que aplaude homens que não sabem lidar com um não. Louco é confundir posse com amor, controlo com cuidado, obsessão com paixão.

Como manter, então, a sanidade num mundo insalubre? Onde se compra equilíbrio emocional com entrega no próprio dia?

Nos afectos reais. Nos laços que não se quebram à primeira contrariedade. Nos abraços que não julgam. Nos olhos que verdadeiramente nos vêm. Nos ouvidos que nos escutam.

O amor, minhas senhoras, é o nosso colete à prova de loucura. O amor é o nosso salva-vidas psíquico. Amor no plural: amor divino, amor romântico, amor de amigas, amor de mãe, amor protector, amor de ventre, amor que acolhe, que escuta, que segura.

Essa é a verdadeira ostentação de que o mundo precisa: afecto em tempos de indiferença. Presença em tempos de performance. Ternura em tempos de trogloditas. Gentileza num mundo cheio de javardos.

Neste mundo doido, a sanidade mental passou a ser o novo “black” básico: vai bem com tudo, combina com qualquer ocasião e salva vidas. Isso, sim, é ostentação que se preze.

– A minha crónica para a Revista LuxWoman de Julho – "Luxo, hoje, é ostentar saúde mental" – encontra-se disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/luxo-hoje-e-ostentar-saude-mental

Num mundo em que o algoritmo sabe mais de nós do que o nosso terapeuta, manter-se lúcida é quase um acto subversivo. Esp...
17/07/2025

Num mundo em que o algoritmo sabe mais de nós do que o nosso terapeuta, manter-se lúcida é quase um acto subversivo. Especialmente se você for mulher. E mais ainda se você ousar dizer “não” – essa pequena grande palavra que desencadeia tsunamis emocionais em certos e frágeis egos masculinos de vidro.

Quantas mulheres você conhece que vivem com medo? Que olham por cima do ombro? Que mudam o trajecto, ao andar (inseguras) no meio da rua? Que já ouviram ameaças ditas com voz baixa e um sorriso cínico? Que têm medo de terminar um relacionamento não porque amam, mas porque sabem que o preço do fim pode ser a própria vida?

Estamos num tempo em que o feminicídio tornou-se numa rotina de noticiário. E o mais assustador: banalizou-se. E o problema não é uma sensação vaga. É real, é quantificável, e tem nome: violência doméstica.

A liberdade feminina ainda custa vidas. E depois vem o insulto final: chamam-nos loucas. Loucas? Louco é o mundo que aplaude homens que não sabem lidar com um não. Louco é confundir posse com amor, controlo com cuidado, obsessão com paixão.

Como manter, então, a sanidade num mundo insalubre? Onde se compra equilíbrio emocional com entrega no próprio dia?

Nos afectos reais. Nos laços que não se quebram à primeira contrariedade. Nos abraços que não julgam. Nos olhos que verdadeiramente nos vêm. Nos ouvidos que nos escutam.

O amor, minhas senhoras, é o nosso colete à prova de loucura. O amor é o nosso salva-vidas psíquico. Amor no plural: amor divino, amor romântico, amor de amigas, amor de mãe, amor protector, amor de ventre, amor que acolhe, que escuta, que segura.

Essa é a verdadeira ostentação de que o mundo precisa: afecto em tempos de indiferença. Presença em tempos de performance. Ternura em tempos de trogloditas. Gentileza num mundo cheio de javardos.

Neste mundo doido, a sanidade mental passou a ser o novo “black” básico: vai bem com tudo, combina com qualquer ocasião e salva vidas. Isso, sim, é ostentação que se preze.

— A minha crónica deste mês – "Luxo, hoje, é ostentar saúde mental" – está publicada na edição de Julho da Revista LuxWoman.

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Dizem que nos antigos circos ensinavam a resignação a elefantes com uma simples corda. Ainda bebés, atavam-nos a um post...
04/07/2025

Dizem que nos antigos circos ensinavam a resignação a elefantes com uma simples corda. Ainda bebés, atavam-nos a um poste. Eles resistiam, lutavam, puxavam. Até perceberem que não adiantava. Quando cresciam — imensos, poderosos — já bastava um fio frouxo para os manter parados. Não era a corda que os prendia. Era a crença de que não valia a pena tentar.

Na Psicologia chamamos a isso “desamparo aprendido”. E há muitas mulheres a viver assim.

Mulheres que cuidam de todos menos de si. Que dão tudo mesmo quando já não têm nada. Que aguentam, resistem, disfarçam. Que aprenderam cedo que sentir era perigoso, que chorar era fraqueza, que desistir não era opção.

Mulheres a quem chamam de fortes — sem nunca perguntarem a que custo.

Nesta crónica que escrevi para a Revista LuxWoman falo um pouco sobre o que acontece quando crescemos em ambientes onde não era seguro precisar, expressar, ou falhar. Onde aprendemos a sobreviver... mas não a viver. Não era seguro chorar, então aprendemos a engolir. Não era seguro estar zangada, então aprendemos a sorrir. Não era seguro precisar, então tornamo-nos auto-suficientes — à força.

Neste texto falo da dor silenciosa que se mascara de competência. Da depressão que não é preguiça — é excesso de repressão.

E da terapia como espaço onde desmontamos, a pouco e pouco, o “poste” interior ao qual ainda estamos amarradas.. Onde voltamos a escutar o que ficou enterrado debaixo de anos de resistência.
A terapia não é só um espaço para "resolver problemas". É um espaço para se escutar com mais profundidade do que o mundo permite. Na relação terapêutica, abrimos as portas do que ficou congelado. E vamos descobrindo — às vezes com espanto — que somos muito mais do que aquilo que nos ensinaram a ser. Que podemos escolher um outro caminho que não seja o da dor e da resistência constante.

Porque talvez ser forte... seja, finalmente, permitir-se parar de aguentar tudo sozinha.

E isso — isso pode ser o princípio de uma liberdade profunda.

– A minha crónica de Junho – "Nem toda a mulher forte está bem" – encontra-se disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/nem-toda-a-mulher-forte-esta-bem/

Dizem que nos antigos circos ensinavam a resignação a elefantes com uma simples corda. Ainda bebés, atavam-nos a um post...
19/06/2025

Dizem que nos antigos circos ensinavam a resignação a elefantes com uma simples corda. Ainda bebés, atavam-nos a um poste. Eles resistiam, lutavam, puxavam. Até perceberem que não adiantava. Quando cresciam — imensos, poderosos — já bastava um fio frouxo para os manter parados. Não era a corda que os prendia. Era a crença de que não valia a pena tentar.

Na Psicologia chamamos a isso “desamparo aprendido”.

E há muitas mulheres a viver assim.

Mulheres que cuidam de todos menos de si. Que dão tudo mesmo quando já não têm nada. Que aguentam, resistem, disfarçam. Que aprenderam cedo que sentir era perigoso, que chorar era fraqueza, que desistir não era opção.

Mulheres a quem chamam de fortes — sem nunca perguntarem a que custo.

Nesta crónica que escrevi para a Revista LuxWoman falo um pouco sobre o que acontece quando crescemos em ambientes onde não era seguro precisar, expressar, ou falhar. Onde aprendemos a sobreviver... mas não a viver. Não era seguro chorar, então aprendemos a engolir. Não era seguro estar zangada, então aprendemos a sorrir. Não era seguro precisar, então tornamo-nos auto-suficientes — à força.

Neste texto falo da dor silenciosa que se mascara de competência. Da depressão que não é preguiça — é excesso de repressão.

E da terapia como espaço onde desmontamos, a pouco e pouco, o “poste” interior ao qual ainda estamos amarradas.. Onde voltamos a escutar o que ficou enterrado debaixo de anos de resistência. A terapia não é só um espaço para "resolver problemas". É um espaço para se escutar com mais profundidade do que o mundo permite. Na relação terapêutica, abrimos as portas do que ficou congelado. E vamos descobrindo — às vezes com espanto — que somos muito mais do que aquilo que nos ensinaram a ser. Que podemos escolher um outro caminho que não seja o da dor e da resistência constante.

Porque talvez ser forte... seja, finalmente, permitir-se parar de aguentar tudo sozinha.

E isso — isso pode ser o princípio de uma liberdade profunda.

— A minha crónica deste mês – "Nem toda a mulher forte está bem" – está publicada na edição de Junho da Revista LuxWoman.

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Uma coisa de que não se fala é da forma como as mulheres, na nossa sociedade, sentem-se autorizadas a usar outras mulher...
31/05/2025

Uma coisa de que não se fala é da forma como as mulheres, na nossa sociedade, sentem-se autorizadas a usar outras mulheres (misoginia internalizada), já que foram usadas a vida toda. Os relatos que recebo, a experiência empírica, e as histórias que acompanho são desoladores. Pois é, a gaiola é invisível, mas estas pequenas-grandes filhas das mães, que amiúde me chegam ao consultório, nem sabem que elas próprias poliram as grades, decoraram-na com luzinhas e chamaram-lhe “amor incondicional”.

Quando uma filha cresce ‘programada’ para cuidar emocionalmente da mãe, a sua identidade forma-se à sombra da necessidade alheia. Aprende, desde cedo, que o seu valor está no que dá e não no que é. Como consequência, torna-se uma adulta exausta, ansiosa, hipervigilante – sempre a antecipar o próximo colapso materno. Desenvolve um sentido de responsabilidade esmagador, com sérias dificuldades em experienciar leveza ou mesmo prazer, além de uma dificuldade em dizer ‘não’ e um medo paralisante de decepcionar. Muitas carregam culpas difusas, como se tivessem uma dívida perpétua. No corpo, esta sobrecarga manifesta-se em tensão crónica, insónias, problemas gastrointestinais e até doenças auto-imunes. Na mente, pode traduzir-se em depressão, ataques de pânico e uma sensação constante de não ser suficiente. O pior é que, por terem aprendido a suprimir as próprias necessidades, muitas nem percebem que estão presas numa jaula invisível: acham simplesmente que “a vida é assim”.

As violências que as mulheres sofrem no patriarcado transformam-nas em pessoas sem autonomia, voltadas apenas para a família, muitas vezes apoiando-se nas filhas para receber o que não receberam de ninguém a vida inteira. Esse ciclo coloca as mulheres em posição de repetir padrões de dependência e culpa, em que correm o risco de se manterem objectificadas (ou “úteis”) no papel de cuidadoras emocionais das suas mães.

Quando uma filha cresce aprisionada à mãe, subjugada por uma lealdade que a impede de viver a própria vida, o desejo – de autonomia, de descoberta, de ser simplesmente quem é – vai-se desvanecendo. A dependência emocional transforma-se numa prisão invisível, onde a culpa, o medo, a vergonha, a angústia, sem nome, faz as vezes de carcereiro. Afinal, como desejar livremente quando se passa a vida a servir as necessidades emocionais de outra pessoa, esquecendo-nos por completo das nossas?

Este é e tem sido um ciclo vicioso, viciado e co-dependente, e que se perpetua de geração em geração. Um ciclo que se arrasta implacavelmente através das gerações, repetindo-se como um disco riscado.

– A minha crónica de Maio – "O Peso das Filhas da Mãe" – encontra-se disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/o-peso-das-filhas-da-mae/

Jorge Palma tem uma letra que diz algo como "a dependência é uma besta / que dá cabo do desejo". Maio celebra o Dia da M...
22/05/2025

Jorge Palma tem uma letra que diz algo como "a dependência é uma besta / que dá cabo do desejo". Maio celebra o Dia da Mãe, mas nem sempre as relações mãe-filha são doces ou simples. O mundo criou a ilusão de que a mãe é infalível, e esse é um daqueles tabus espinhosos, ao nível do futebol, da política ou da religião. Mas, como adoro lançar provocações, cá estou eu, pronta para cutucar esse vespeiro com o meu palitozinho.

As relações entre mães e filhas estão entre as mais complexas e desafiadoras, pois a filha funciona como um espelho no qual a mãe se vê reflectida, carregando consigo as marcas dos seus traumas e das limitações impostas pela sociedade. Simone de Beauvoir observou que os conflitos emocionais entre mães e filhas nascem, muitas vezes, do facto de a mãe ter sacrificado grande parte de si mesma para cuidar, o que pode gerar ressentimento. Já os filhos homens tendem a ter um percurso mais livre nesse contexto, pois a mãe não os vê como uma extensão directa de si mesma, projectando neles expectativas diferentes das que recaem sobre as filhas. Tradicionalmente, os rapazes são incentivados a conquistar o seu espaço no mundo, tanto para si quanto para a família, o que faz com que recebam mais autonomia, apoio e reconhecimento materno do que as meninas.

Ensinaram às mulheres que a salvação viria montada num cavalo branco. Mas o que fazer quando a desilusão se instala? Muitas mulheres resolvem a equação da desilusão colocando outra mulher no lugar do salvador: a própria filha.

Sim, muitas vezes, o príncipe falha. Não resgatou, não cuidou, não protegeu, não amou como prometia o conto de fadas. E se ele não cumpriu o papel, alguém terá de o fazer. A menina, sem escolha, herda uma missão invisível: preencher os vazios da mãe, carregar os fardos que o príncipe deixou cair, facilitar para ela, compensar todas as dores que a vida impôs. E assim, sem palavras, sem acordos explícitos, a filha passa a existir menos para si mesma e mais para a mãe.

Mas esta troca de papéis vem com um preço. A menina que cresce como ‘parceira emocional’ da mãe aprende que amor é sacrifício, que ser útil é mais importante do que ser livre, que a sua existência está sempre em função de outra. E um dia, quando tenta construir a própria vida, sente um peso invisível puxando-a para trás.

E lá está a nossa he***na não-oficial, soterrada em dramas alheios, sem fôlego e sem férias, porque alguém, em algum momento, a convenceu de que o seu propósito de vida era ser um “serviço de apoio ao cliente” humano, 24/7.

O problema é que uma filha não pode viver a própria vida se estiver ocupada demais na tentativa de salvar a mãe. Este é e tem sido um ciclo vicioso, viciado e co-dependente, e que se perpetua de geração em geração. Um ciclo que se arrasta implacavelmente através das gerações, repetindo-se como um disco riscado.

— A minha crónica deste mês – "O Peso das Filhas da Mãe" – está publicada na edição de Maio da Revista LuxWoman.

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Abril em Maio, afinal a Liberdade deveria viver-se todos os dias! Cá estou eu para trazer-lhe uma pergunta talvez incómo...
08/05/2025

Abril em Maio, afinal a Liberdade deveria viver-se todos os dias! Cá estou eu para trazer-lhe uma pergunta talvez incómoda, mas sempre essencial: quem tem guiado a sua vida?

Minha querida, não, não me venha com respostas automáticas. Olhe bem para trás. Veja os caminhos que trilhou. E agora responda, sem auto-enganos: foi você quem os escolheu ou simplesmente seguiu as placas que alguém plantou no seu percurso?

Ser livre é muito mais do que poder decidir. É saber de onde vêm as decisões que toma.

A sociedade ensina as mulheres a agradar, a apaziguar, a carregar nos ombros um peso que não pediram. E o pior? Muitas nem percebem que foram treinadas para isso.

Cada vez que você sente culpa por descansar, cada vez que se desculpa por ocupar espaço, cada vez que engole um grito ou esconde uma lágrima para não incomodar, está a reforçar as grades invisíveis que a mantêm presa.

Na crónica de Abril que escrevi para a Revista LuxWoman, eu faço-lhe a seguinte pergunta: ❓ você é livre ou só acha que é? ❓ Acredita que escolhe os seus caminhos, mas será que não anda a caminhar em círculos, refém de padrões invisíveis que repetem a mesma história com novos cenários?

A verdadeira liberdade não é fazer o que se quer, mas entender o que dentro de si a faz querer certas coisas. Se sempre tropeça nas mesmas dores, se os seus relacionamentos seguem roteiros familiares de frustração, se o medo da rejeição a mantém onde não quer estar, talvez a sua "liberdade" seja apenas um hábito bem-disfarçado. A autonomia emocional começa quando ousamos questionar quem, de facto, tem guiado os nossos passos: a nossa consciência ou as nossas feridas? ❓

Leia, se tiver coragem. Ou então continue a fazer de conta.
(Que é exactamente o que o sistema espera de si.)

– A minha crónica de Abril - "Você é livre ou só acha que é?" - encontra-se disponível online aqui, na sua versão aberta e integral. 👉 https://www.luxwoman.pt/voce-e-livre-ou-so-acha-que-e/

Endereço

Avenida 5 De Outubro
Lisbon
1050-056

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