Lapsis Centro Psicoterapeutico

Lapsis Centro Psicoterapeutico Somos pioneiros, inovadores mantemos uma qualidade que só quem foi, ou é nosso paciente, pode avaliar.

Na Lapsis entendemos a criança como um todo, e todas as valências que passam pela psicoterapia, psicomotricidade, terapia da fala, grupos terapêuticos consoante a idade da criança, pedopsiquiatria, terapia familiar e apoio aos pais, são colocadas ao serviço de um único interesse: o bem estar mental da criança e da família.

Parte I - O Pai Interno e o Burnout A travessia entre Burnin e Burnout — fogo-fátuo da modernidade A palavra burnout der...
28/11/2025

Parte I - O Pai Interno e o Burnout
A travessia entre Burnin e Burnout — fogo-fátuo da modernidade
A palavra burnout deriva do inglês: queimar por fora até ao fim, consumir-se em cinzas. Já burnin, termo mais recente, designa o movimento inverso e anterior: queimar por dentro, enquanto a chama permanece viva e intensa — consumindo-se de forma silenciosa. Ambos descrevem modos de existir em grande combustão: ora na exuberância da entrega total, ora no colapso da exaustão que já não permite reagir.
Ora, a nossa hipótese é que o burnout não nasce simplesmente do mundo externo; nasce do encontro doloroso entre esse mundo e as nossas feridas internas. O contexto desperta o que já era frágil. A pressão laboral, o excesso de tarefas, a cultura de resultados podem funcionar como gatilhos eficazes, mas só desencadeiam o colapso quando o sujeito já traz consigo um modo de amar e de ser amado que pode estar baseado no sacrifício e na dependência afetiva do outro.
O burnin inaugura este percurso: pode ser uma pessoa que está numa depressão manifesta ou num estado de negação da depressão em que nem ela tem consiciencia que está deprimida , a que chamamos depressividade.
O burnout é o resultado para nós do burnin no mundo laboral, nas relações externas. Ora, a forma como nos relacionamos com o trabalho — e com a exigência — pode ser uma réplica dos nossos vínculos primários da infância. Na psicanálise, a função paterna representa a lei simbólica, a autorização para existir socialmente, o reconhecimento do valor pessoal. Pais autoritários levam a criança a acreditar que apenas a excelência garante amor e pertença; pais ausentes ou indiferentes ensinam, pelo silêncio, que é preciso fazer muito para ser visto; pais democráticos, que aliam exigência afetiva a limites coerentes, oferecem a possibilidade de o sujeito se sentir digno mesmo na falha. Quem acendeu a nossa chama pode assim determinar, muitas vezes, como ela arde em nós e por quanto tempo.
A projeção da experiência de ter um pai autoritário nas relações laborais afeta profundamente o indivíduo, criando padrões de comportamento e vulnerabilidades que aumentam significativamente o risco de burnout. Esta projeção manifesta-se principalmente através da internalização do modelo de autoridade, moldando a forma como o indivíduo lida com chefias, pressão, e autonomia no ambiente de trabalho: a Submissão e Medo de Crítica, o indivíduo aprendeu que desobedecer ou falhar resulta em punição severa ou perda de afeto (no contexto parental), no trabalho, isto traduz-se em submissão excessiva à chefia, mesmo que esta seja tóxica. O trabalhador evita o conflito a todo o custo e tem um medo intenso de cometer erros ou de receber feedback negativo, existe uma incapacidade de dizer "não" à sobrecarga de trabalho, o medo de desagradar impede o estabelecimento de limites saudáveis, resultando em exaustão emocional e stress crónico; o Perfeccionismo e Autoexigência Excessiva, a única maneira de um filho de um pai autoritário ganhar validação ou evitar críticas é atingir um padrão de excelência inatingível, no trabalho, esta dinâmica manifesta-se como perfeccionismo patológico e uma autocobrança incessante (o chamado "trabalhador workaholic"), o perfeccionismo é um fator de risco primário para o burnout, a necessidade de dar "200%" em todas as tarefas, o receio de delegar e a incapacidade de aceitar o "suficientemente bom" levam à sobrecarga contínua e à exaustão física e mental ; Dificuldade na Autoestima e Realização : a ausência de reconhecimento ou a crítica constante na infância geram uma baixa autoestima e uma sensação de incompetência subjacente, o trabalhador pode procurar validação através de resultados, mas nunca se sente realmente realizado ou bom o suficiente, independentemente do sucesso. O indivíduo não consegue sentir realização profissional, um dos pilares do burnout. O sentimento de insatisfação crónica mantém-no num ciclo vicioso de trabalhar mais para provar o seu valor, sem nunca o alcançar, o que aprofunda a exaustão.
Já a projeção de um pai democrático na relação do trabalhador com a liderança e com os colegas e o risco de burnout estão inversamente relacionados: o estilo parental democrático atua como um fator protetor contra o burnout laboral, promovendo o desenvolvimento de recursos psicológicos essenciais. O estilo parental democrático é caracterizado por: Alta exigência (estabelece regras e limites claros); Alta responsividade (oferece elevado afeto, apoio emocional e diálogo); valoriza a autonomia, a comunicação aberta, a criatividade e a participação nas decisões.A pessoa que foi criada num ambiente democrático internaliza a confiança e a competência para navegar no mundo profissional de forma mais saudável. Na infância: A criança era incentivada a tomar decisões apropriadas à sua idade, a argumentar as suas ideias e a participar na criação de regras. No trabalho: O adulto tem elevada autoeficácia (confiança nas suas capacidades), capacidade de autorregulação e de iniciativa. Ele procura ativamente soluções e sente-se confortável em assumir responsabilidades. Estes recursos (autonomia e autoeficácia) são a antítese do burnout. O trabalhador sente controlo sobre as suas tarefas e ambiente, o que reduz significativamente o stress laboral. O adulto tem capacidade de negociação e assertividade. Consegue estabelecer limites saudáveis e comunicar as suas necessidades. A capacidade de impor limites previne a sobrecarga, a principal causa da exaustão emocional. A comunicação aberta permite a busca de apoio ou a discussão de expectativas irrealistas com a chefia. O indivíduo criado num ambiente democrático tende a prosperar sob estilos de liderança que se assemelham ao modelo parental, como a liderança transformacional ou a liderança participativa.
Quando a função parental falha, não contendo a angústia da criança, instala-se aquilo que Bion designou terror sem nome: um medo primitivo, incessante, sem palavras que o possam representar. No burnin, o sujeito mantém-se sempre ocupado, sempre disponível, sempre a responder expectativas — como se a imobilidade pudesse libertar o terror que vive dentro de si. Quando o burnout chega, esse terror regressa sem filtro, esmagador: o colapso não é apenas físico, mas também simbólico e emocional.
Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa D'Almeida

Desisti. Aliás, não preciso — sinto-me bem!Será que descuidamos o cuidado de nós próprios? Quantas vezes deixamos de inv...
30/10/2025

Desisti. Aliás, não preciso — sinto-me bem!
Será que descuidamos o cuidado de nós próprios? Quantas vezes deixamos de investir no nosso bem-estar, convencidos de que não precisamos, de que não merecemos, de que outras coisas se devem sobrepor ou de que já estamos suficientemente bem — afinal, comparados com os outros, até parecemos estar melhor.
Para algumas pessoas, contudo, perder o seu estado de dor emocional ou estado depressivo pode, paradoxalmente, significar perder a ligação a todo, ou a parte, do seu passado. É como se essa tristeza as mantivesse ancoradas ao presente — ainda que esse presente lhes pese.
— “Estou aqui porque me pediram, porque me disseram que devia vir; eu, sinceramente, não preciso disto para nada.”
Alguns afastam-se. Outros permanecem — porventura, aqueles que podem e querem reconhecer a necessidade de transformação.
Não será preciso deixar cair os frutos maduros e as folhas velhas para que possam nascer folhas novas, para que a primavera encontre espaço para despontar? Caso contrário, continuamos presos ao sabotador interno, ao gigante egoísta — o mesmo de sempre.
Recordamos a história de Oscar Wilde, O Gigante Egoísta. Conta-se que, um dia, um gigante regressou ao seu jardim e encontrou-o cheio de crianças a brincar. Riam, corriam, enchiam o espaço de alegria e de vida. Mas o gigante, fechado no seu orgulho e na sua solidão, expulsou-as e ergueu um muro à volta do jardim. Quis o jardim apenas para si.
Desde então, chegou o inverno — e nunca mais partiu. As flores murcharam, os pássaros silenciaram-se e o sol deixou de entrar. O jardim congelou, tal como o coração do gigante.
Até que, um dia, as crianças voltaram. Encontraram uma pequena brecha no muro e conseguiram passar. Com elas, entrou a luz, a primavera: as árvores voltaram a florir, o vento cantou e o jardim renasceu.
Porém, num recanto do jardim, o inverno ainda resistia. Ali, uma pequena criança chorava baixinho — tentava alcançar os ramos de uma árvore gelada, mas não conseguia.
— “Anda, sobe, meu pequeno!” — murmurou a árvore, inclinando-se o mais que podia para o ajudar. Porém, o menino era demasiado pequeno e os seus braços frágeis. Ao contemplar aquela cena, o coração do gigante enterneceu-se. Uma onda de ternura e arrependimento atravessou-o. — “Que cego tenho sido!” — disse consigo mesmo. “Agora entendo porque a Primavera se afastou do meu jardim.”
Com cuidado, aproximou-se da criança, ergueu-a nos braços e colocou-a sobre a árvore.
Nesse instante, a neve começou a derreter, as flores abriram-se, e os pássaros regressaram com o seu canto. Então, o gigante sorriu e murmurou baixinho: — “Vou derrubar este muro. A partir de hoje, o meu jardim será sempre o lugar onde as crianças possam brincar.”
Mais tarde, essa mesma criança reapareceu. Sorriu-lhe e disse: — “Hoje virás comigo para o meu jardim.” E o gigante partiu em paz. O jardim, enfim, floresceu para sempre.
Esta história terá algum espelho em nós? Tal como o gigante, também podemos erguer muros à volta do que é mais sensível em nós, convencidos de que assim nos protegemos — e, sem perceber, condenamo-nos ao nosso próprio inverno.
Mas há quem escolha permanecer no caminho de transformação, quem confie, com amor e ternura, na importância de deixar cair flores e folhas para que, um dia, a primavera volte a florescer dentro de si.
Porque é certo que aquele jardim — como tantos corações humanos — permaneceu num inverno eterno até ao dia em que o murro deu lugar ao cuidado, ao amor, à ternura. E foi nesse passo pequeno, simples e decisivo, que a primavera nasceu de novo.
Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa D'Almeida

Intenções como memórias do futuroHá um ponto contínuo dentro de nós onde o tempo acontece. Não é passado, nem futuro — é...
23/10/2025

Intenções como memórias do futuro

Há um ponto contínuo dentro de nós onde o tempo acontece. Não é passado, nem futuro — é um espaço de vibração onde tudo existe em potência. É ali que nascem as intenções, como se o futuro chamasse o presente através de recordações que ainda não aconteceram.
Serão essas intenções memórias do futuro? Serão legados de um caminho já traçado noutro nível da consciência? Será que quando sentimos uma intuição, não estamos a imaginar algo novo, mas a recordar algo que já É num nível mais profundo do tempo?
O símbolo do “Ó” pode representar esse mistério. É o círculo que contém tudo: o vazio e o pleno, o início e o fim. Na psicologia, ele é imagem do inconsciente total, do espaço interior onde o divino e o humano se encontram. Dentro desse círculo, o tempo não corre — acontece, vibra, pulsa. Cada intenção é uma onda dessa pulsação, uma mensagem vinda de um futuro que já existe em estado potencial.
Einstein, ao falar da relatividade, mostrou que o tempo é uma dimensão maleável, e que o presente é apenas um recorte de um tecido contínuo. A mente humana, por sua vez, é o espelho dessa estrutura — um campo de ressonância onde as ideias viajam não só da memória para o desejo, mas também do desejo para a lembrança.
É nesse ponto que o pensamento se torna criação. Quando uma intenção é sentida com força e verdade, ela reorganiza o campo psíquico e começa a atrair as experiências que a confirmam. A psicologia profunda vê isso não como magia, mas como coerência simbólica: o inconsciente responde àquilo que o Self já decidiu viver. A intuição, então, é o eco dessa decisão — o murmúrio do futuro chamando-nos de volta a casa.
Federico García Lorca intuiu isso pela via da arte. Chamou de duende essa força invisível que vem de dentro e de longe, que nos atravessa e dá forma ao indizível. O duende é a presença do eterno no instante, o toque do “Ó” nas nossas veias. Quando o duende se manifesta, é o futuro que fala através da emoção, e o ser humano se torna meio de uma lembrança cósmica.
Deus, assim, não é uma figura externa, mas uma dimensão interna da totalidade.
As “dimensões de Deus” são os níveis da consciência humana — camadas de profundidade onde o tempo se dilui e o ser se reconhece como parte do todo. O “Ó” é a forma simbólica desse encontro: a lembrança do que sempre foi e do que ainda será.
E talvez o sentido da vida seja isso: lembrar o futuro que nos habita, ouvir o murmúrio da intenção que nos antecede, e abrirmo-nos ao lugar onde o tempo se fecha em círculo —
onde o humano e o divino se reconhecem como a mesma unidade que respira.
Dr. Bernardo Corrêa D'Almeida
Dr. Paulo Nuno Pereira

Imagem: pixabay.com

O Silêncio a Falar do Pior ModoO amor sem liberdade é dependência, e a liberdade sem amor é prisão.Entre estes dois extr...
12/10/2025

O Silêncio a Falar do Pior Modo
O amor sem liberdade é dependência, e a liberdade sem amor é prisão.
Entre estes dois extremos — a entrega que aprisiona e a liberdade que isola — ainda surge a opção de nos perdermos de nós mesmos, de nos escondermos algures dentro de nós próprios.
Vivemos num tempo em que tudo se mostra — mas quase nada se sente verdadeiramente.
Nos dias que correm, na pressa e no ruído das redes, há corpos, há imagens, há gestos… mas quase sempre falta o afeto e o sonho.
Kant dizia que “pensamentos sem conteúdo são vazios e intuições sem conceito são cegas”.
Ora, relações sem afeto são cegas, e vidas sem encontro são vazias.
Grande parte dos nossos jovens passa mais tempo diante de ecrãs vazios cheios de nada — de montras onde lhes vendem tudo, e de onde regressam carregados de nada para casa.
Em suas casas, onde muitas vezes, dramaticamente, encontram espaços sem afeto, sem tempo, sem olhar.
O abraço foi substituído pelo emoji, o olhar pelo ecrã, o silêncio pela notificação.
E os números falam, silenciosamente, com brutalidade:
31% dos jovens consomem álcool regularmente.
45% dos adolescentes portugueses apresentam sintomas depressivos.
15% dos adolescentes manifestam depressão grave.
Cada vez mais jovens morrem por overdose.
1 em cada 4 jovens já teve pensamentos ou atos suicidas.
1 em cada 4 crianças tem uma perturbação mental.
As mortes de jovens ao volante cresceram 48% nos últimos dois anos.
E o mais doloroso: entre os jovens dos 15 aos 29 anos, o suicídio é uma das principais causas de morte.
Atrás de cada número há um nome, um rosto, um abraço que não aconteceu.
Efetivamente, Portugal é hoje um país bastante doente, onde cresce o diagnóstico de depressão, ansiedade e burnout.
A saúde mental deixou de ser uma preocupação apenas clínica — é uma questão de sobrevivência coletiva.
Vivemos anestesiados. Drogamo-nos de dopamina digital, consumimos prazeres instantâneos, compramos autoestima em “likes” e substituímos o amor por distrações.
Mas o corpo lembra. A alma cobra.
E o vazio, disfarçado de liberdade, vai matando devagar.
Desaparecem cinemas, livrarias, poesia — lugares onde se respirava a alma.
Surgem livros de autoajuda que prometem milagres em cinco minutos e gurus que vendem calma em pacotes.
Mas o que falta não é uma fórmula: é o outro. O toque. O abraço. A conversa sem pressa.
Mesmo quando muitos se deitam juntos, poucos se encontram.
Mesmo entre milhões conectados, cresce a solidão.
Há uma epidemia silenciosa de ausência — e ela já está a custar vidas.
Não são apenas cadeiras vazias nas salas de aula.
São corações vazios, mesas de jantar sem palavras, olhos que não se cruzam.
São jovens que se perdem, não por falta de capacidade, mas por falta de sentido.
É urgente recuperar o humano.
Ensinar de novo o valor do abraço, do toque, do olhar, do pensamento.
Precisamos de tempo, de presença, de comunidade — antes que o silêncio se torne definitivo.
Não é tarde demais.
Mas o tempo de agir é agora.

Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa D'Almeida

Imagem: https://pixabay.com/pt/users/terski-5330276/?utm_source=link-attribution&utm_medium=referral&utm_campaign=image&utm_content=8603184

Ajudar ou não ajudar – eis a questãoQuando uma pessoa procura um psicólogo, geralmente traz consigo um pedido de ajuda —...
19/09/2025

Ajudar ou não ajudar – eis a questão
Quando uma pessoa procura um psicólogo, geralmente traz consigo um pedido de ajuda — às vezes expresso com clareza, outras vezes oculto sob o peso do sofrimento; da desesperança; da confusão. Surge, então, uma questão fundamental: o psicólogo deve simplesmente ajudar? E o que significa, afinal, “ajudar” alguém nesse contexto?
Seguramente, a missão do psicólogo vai além de oferecer conselhos ou soluções prontas. Do ponto de vista profissional, a sua função não é resolver o problema do outro, nem propriamente ajudá-lo de modo paternalista ou maternalista, mas sim criar um espaço seguro, ético e acolhedor onde a pessoa possa, aos poucos, compreender-se melhor, escutar a si mesma, elaborar o seu sofrimento e descobrir os seus próprios recursos internos e caminhos que deseja seguir.
A verdadeira ajuda, nesse sentido, não reside em conduzir o outro pela mão, mas em acompanhá-lo com atenção e fé — a certeza de que ele chegará lá por si mesmo — e com uma presença autêntica e plena, permitindo que encontre o seu próprio caminho. Muitas vezes, isso implica tolerar a incerteza, abrir-se ao silêncio, sustentá-lo e acolher aquilo que, à primeira vista, possa parecer confuso ou sem sentido.
Os silêncios, tão fecundos na prática clínica, podem despertar estranheza, irritação ou até dor — tanto no paciente quanto no psicólogo. No entanto, é justamente nesse vazio aparente que algo novo pode emergir. O silêncio, longe de ser ausência, pode ser um terreno fértil onde pensamentos se organizam, emoções se manifestam, sentidos profundos se revelam e novos significados se abrem, proporcionando diversas transformações no nível do pensamento, do comportamento e da atitude da pessoa. É nesse espaço sem palavras que, muitas vezes, o verdadeiro trabalho terapêutico acontece — e é onde as pessoas crescem e se desenvolvem humanamente.
Portanto, a missão do psicólogo talvez não seja “ajudar” no sentido convencional da palavra, mas sim estar presente de forma ética, escutando com atenção e criando condições para que o outro cresça, se transforme e encontre, por si mesmo, novos significados para a sua vida — vida que só a ele cabe viver e decidir como vivê-la.
Por fim, dentro desse processo de escuta e acolhimento profundo, o perdão pode surgir como uma das experiências mais libertadoras e transformadoras para quem sofre — seja ele dirigido a si mesmo ou ao outro. O perdão, nesse contexto, revela-se como uma imensa oportunidade de ressignificação e transformação emocional. Como diria Sun Tzu: “Toda batalha é vencida antes de ser travada.” Ou seja, é na preparação interna, no autoconhecimento e na coragem de olhar para a dor com honestidade e amor que se pode superar o que antes parecia impossível — sendo precisamente aí que se vence ou se perde a batalha.
Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa D'Almeida

PORQUE NA LAPSIS ACREDITAMOS QUE SÓ PODEMOS CRESCER SE ESTIVERMOS ABERTOS A UMA APRENDIZAGEM CONTÍNUA:O tempo que se viv...
04/09/2025

PORQUE NA LAPSIS ACREDITAMOS QUE SÓ PODEMOS CRESCER SE ESTIVERMOS ABERTOS A UMA APRENDIZAGEM CONTÍNUA:
O tempo que se vive quando se aprende
Existe um tempo que os relógios não medem, tempo esse que se aprofunda e envolve, mesmo quando parece passar depressa demais. Foi esse o tempo que vivemos ao longo das 160 horas de formação iniciadas em outubro e concluídas agora em julho,
um tempo feito de encontros, descobertas e aprendizagens. A cada sessão ampliávamos os nossos horizontes e colecionávamos experiências e aprendizagens. O tempo ganha
outra medida, estávamos ali por inteiro, de corpo e mente, envolvidas nas mais variadas descobertas sobre diversos temas. Foram 10 meses de experiências “fora da caixa”.
Atividades diferentes, inesperadas, por vezes “estranhas”, que nos tiraram da zona de conforto e nos colocaram diante de novas formas de ver, de sentir e de pensar.
Foram meses que nos convidaram a questionar o mundo e a perceber que quase tudo, senão tudo pode ter mais que uma leitura e interpretação. Aprendemos que raramente a
realidade é linear e que poucas coisas são absolutas. Existe sempre outro ponto de vista, outra história por detrás daquilo que é visível. O tempo, nesses encontros, parecia
comportar-se de forma curiosa. Havia momentos em que voava, devido à curiosidade e entusiasmo das novas aprendizagens. Outras vezes, parecia abrandar, especialmente quando nos confrontávamos com nós mesmos, com emoções desafiantes, com aprendizagens que exigiam mais do que escutar, exigiam entrega e transformação.
Começámos por ouvir música, brincámos com palavras e bonecos, habitámos casas simbólicas e construímos monumentos, ideias e emoções com lego. Pintámos e
desenhámos com as mãos, com os pés e com a sensibilidade que vive em nós. Demos vida a árvores, casas e pessoas, e nelas projetámos não apenas formas, mas sentimentos, memórias e sonhos. Entre as tintas e as histórias, entre os te**es projetivos como o Rorschach e o CAT, aprendemos a olhar além do óbvio. Vimos filmes, discutimos casos, interpretámos sinais do corpo e da mente e dançámos. Aprendemos muito, especialmente com o psicodrama, onde compreendemos que o corpo também comunica, para além das palavras. A partir da leitura de livros e contos, partilhámos impressões e reconhecemos nas entrelinhas interpretações e visões diferentes das nossas. Houve
espaço para falar sobre a realidade do mundo, temas como religião e fé, questionámos os dogmas absolutos e refletimos sobre o que o mundo sente, dando lugar à dúvida e à
empatia genuína. Falámos de emoções, da sua expressão na cabeça e no cérebro.
Discutimos neurociência, alimentação, música, aprendizagem. Construímos objetos, depois analisámos como essas construções dizem tanto de nós e das crianças com quem
trabalhamos, assim como o mundo que habitamos, que nos molda e nos afeta, mesmo quando não nos damos conta.
O tempo que partilhámos transformou-nos num grupo com mais do que um propósito comum, criou-se entre nós uma ligação feita de presença, escuta e empatia.
Aos poucos, formou-se uma identidade coletiva, baseada na convivência e no reconhecimento mútuo. No final, fomos capazes de adivinhar quais as experiências que mais tocaram cada uma, como se cada percurso individual tivesse sido, de alguma forma, vivido por todas.
Esse tempo que poderia parecer longo no calendário foi breve, porque estávamos interessadas, envolvidas e o tempo deixou de ser um número. A aprendizagem que aconteceu aqui foi mais do que teórica. Foi vivida e sentida. Compreendida no corpo e
no pensamento. E isso, nenhuma cronologia consegue traduzir. Crescemos. Pensámos de forma diferente. Levámos connosco não apenas conteúdos, mas percepções novas.
Formas mais humanas, mais empáticas e mais conscientes de olhar para a criança e para o adolescente, para o outro e para nós próprios.

As estagiárias do ISPA (ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida):
Madalena
Margarida
Mariana

Sou suficientemente bom para ser amado?Acreditamos, verdadeiramente, ser bons o suficiente para sermos amados?Essa pergu...
25/07/2025

Sou suficientemente bom para ser amado?
Acreditamos, verdadeiramente, ser bons o suficiente para sermos amados?
Essa pergunta íntima e silenciosa pode definir, em grande parte, a nossa trajetória emocional ao longo da vida. Ela tende a repetir-se tantas mais vezes quanto menos amado alguém se possa ter sentido.
A resposta tem raízes profundamente antigas — naquele tempo primordial em que a nossa mãe nos fez (ou não) sentir-nos desejados, amados, queridos, dignos de cuidado. É nesse alicerce invisível e fundamental que começamos a formar a ideia de que podemos — ou não — ser amados de verdade.
E quando, mais tarde na vida, sentimos que talvez o amor verdadeiro — aquele que nos reconhece, que nos acolhe e que nos transforma — pode nunca vir a acontecer, algo paradoxal pode emergir dentro de nós: passamos a depender, cada vez mais, da ideia de amor. É como se, diante da ausência da experiência concreta, nos agarrássemos à promessa do sentimento. Buscamos co***lo justamente naquilo que, na prática, está ausente. O amor deixa de ser um encontro com o outro e passa a ser uma construção imaginária no horizonte infinito da miragem.
Essa construção muitas vezes assume a forma da idealização. Criamos amores utópicos, perfeitos, quase míticos. Cada um pode carregar consigo a figura de uma Dulcineia, uma linda e formosa Leonor, uma Ofélia — personagens que servem mais aos nossos desejos do que correspondem a pessoas reais. Nelas projetamos tudo aquilo que sentimos faltar: compreensão total, pureza, paixão incondicional — tantas vezes cega e irracional. Essa fantasia tende a proteger-nos da realidade imperfeita das relações, oferecendo um aparente refúgio emocional onde nada falha — porque, precisamente, nada acontece.
Mas quando o amor real aparece — de forma inesperada — e sentimos que, talvez, podemos sim ser amados, somos tomados por um conflito, uma luta interna, uma dissonância cognitiva. E agora? Arrisco ou não? Troco o ideal pelo concreto? Deixo morrer o amor perfeito da imaginação por esse outro que se apresenta diante de mim — imperfeito, mas possível? Nesse momento, os sabotadores internos podem surgir com força: “Não houve a música certa”, “Tem medo de viajar de avião”, “Só lê revista de moda em vez de Shakespeare” — qualquer motivo serve para afastar o risco.
Ao tentarmos trazer esse amor idealizado para o mundo concreto, somos forçados a encarar um desconforto inevitável: o outro nunca corresponderá totalmente à imagem que criamos. E quanto mais investimos na perfeição do nosso amor imaginado, maior será o choque com a realidade. Essa colisão entre fantasia e realidade gera uma dissonância cognitiva profunda — um embate entre o que gostaríamos de acreditar e o que realmente vivemos.
É nesse ponto que surgem as verdadeiras decisões. Seguimos nutrindo o ideal, intocável e irrealizável, ou abrimos espaço para o amor real — imperfeito, sim, mas também presente, renovável e capaz de se transformar, a cada momento, em algo belo, criativo e fecundo para mim, para o outro e para a própria relação?
Importa, então, que essa transformação aconteça em três níveis: no “eu”; no “outro” — como alguém separado de nós e não parte de nós; e na “relação” — onde todos possam crescer dentro dela.
No fundo, tudo retorna à pergunta fundamental: será que podemos vir a ser amados — exatamente como somos?

Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa d'Almeida

Imagem de Hello Cdd20 por Pixabay

EDUCAÇÃOSerá que os Países Baixos, a Finlândia e o Japão, entre outros países, estão errados nos seus modelos educativos...
17/07/2025

EDUCAÇÃO
Será que os Países Baixos, a Finlândia e o Japão, entre outros países, estão errados nos seus modelos educativos? E estaremos nós no caminho certo? A resposta é não. Estes países adotam princípios educativos centrados no aluno, na valorização do bem-estar, na confiança nos professores e numa abordagem pedagógica que coloca a pessoa no centro.
A Finlândia, por exemplo, aposta num sistema equitativo, com menos exames e mais tempo para aprendizagens pautadas pelo significado. Os Países Baixos incentivam a autonomia das escolas e respeitam os ritmos individuais de cada aluno. O Japão, por sua vez, alia exigência académica a um forte espírito de comunidade e à educação para os valores.
Embora existam críticas — como a alegada falta de exigência ou dificuldades na transposição desses modelos para outras realidades e contextos— os resultados destes países, tanto a nível académico como humano, são largamente positivos. Pois bem, o erro não está seguramente nesses modelos, mas sim na tentativa de os copiar sem as devidas adaptações a outras realidades. Com efeito, a verdadeira aprendizagem passa por refletir sobre os seus princípios e traduzi-los com coerência para os nossos contextos.
Em Portugal, os avanços das últimas décadas são inegáveis: melhorias nos resultados internacionais (ainda que haja alguma ambiguidade nesses resultados, já que o essencial é a aprendizagem efetiva e não apenas indicadores que podem ser mais ou menos representativos e quantitativos), redução do abandono escolar e investimento em infraestruturas. No entanto, persistem desafios como o excesso de conteúdos, a centralidade dos exames, a burocracia, a competição entre alunos e a desvalorização da profissão docente. Em abono da verdade, o sistema continua muito marcado por uma lógica de controlo e resultados, em vez de uma visão centrada no desenvolvimento integral dos alunos.
Para continuarmos a avançar, precisamos de uma escola mais humana, que promova a criatividade, a empatia e o pensamento crítico. Uma escola que confie nos professores, que dignifique a sua missão essencial e valorize verdadeiramente o papel do aluno. E, acima de tudo, uma escola baseada na cooperação — entre docentes, alunos, famílias e comunidade. Educar é um processo comunitário, e só com mais colaboração, respeito e visão partilhada construiremos uma escola verdadeiramente transformadora.
Dr. Paulo Nuno Pereira
Dr. Bernardo Corrêa d'Almeida

Endereço

Rua Professor Mira Fernandes N11 Loja
Lisbon
1900-382

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Segunda-feira 09:00 - 21:00
Terça-feira 09:00 - 21:00
Quarta-feira 09:00 - 21:00
Quinta-feira 09:00 - 21:00
Sexta-feira 09:00 - 21:00
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