06/12/2022
Que fique claro: eu entendo que os pais são os nutrientes mais ricos e mais equilibrados para as crianças. Mais que o leite, a carne, a fruta ou os vegetais. E entendo que não há como ficar obeso de pais. Porque os pais têm uma espécie de auto-regulação fantástica que faz com que as crianças com mais de pais fiquem sempre mais robustas e mais saudáveis. Só sou é um bocadinho “contra” os pais “muito modernos”.
Daqueles que se cercam de manuais e testam todas as “fórmulas de sucesso” - em relação às birras das crianças, à proibição de se esganiçarem ou em relação aos “nãos” - em vez de escutarem o seu “sexto sentido” e de porem o bom senso e a sua “convicção de pais” a puxar por eles.
Daqueles que acham que as crianças vivas são hiperactivas e que a sua algazarra é poluição sonora. E que supõem que as crianças saudáveis não são cabeças no ar, não andam na lua, não são “malandrotas” e não guardam para amanhã quase todas as coisas.
Daqueles que acham que a escola está, sempre, em primeiro lugar, e que a família e o brincar não são compromissos nem mais sérios nem, sobretudo, mais inadiáveis. E que consideram que o trabalho vem sempre antes da milenar tentação de imaginar, de fantasiar e de recriar.
E daqueles que acham que “o não” traumatiza as crianças e que não existirem situações-limite em que elas precisem de ter um bocadinho de “receio” dos pais.
E daqueles que acham que as birras são “nervos”. Que o lado desafiador das crianças é só uma aragem de rebeldia. E que alguns laivos de insolência acabam por se traduzir por uma salutar manifestação de “personalidade”.
As “famílias muito modernas”parecem fugir das suas memórias e dos seus exemplos de família. Parecem consumir todas as soluções rápidas como se educar não fosse difícil e não se fizesse sem que fosse necessário muito tempo, alguns erros e muitos “dilemas de pais”. E como se a educação duma criança não fosse, como o amor, uma tarefa para a vida. Que não se resolve com uma pitada de técnica, alguma burocracia e num registo “fast food”. Mas com todos os bocadinhos de cada um dos pais. Para que os filhos lhes somem “o bocadinho” de si que faz com que eles nos eduquem, nos amem e nos comovam.