03/11/2025
D. Luísa tem 98 anos e 2 filhos: Sofia e Pedro.
Vive na sua casa. Como a idade é muita e já tem tido algumas quedas, os filhos sugeriram integrá-la numa ERPI. D. Luísa recusa e diz que quer morrer em casa.
Pensa-se em alternativas e conseguem uma cuidadora para apoiar a D. Luísa.
Durante o dia a cuidadora ajuda-a na sua higiene, prepara-lhe as refeições, trata da roupa e faz pequenas limpezas.
A cuidadora sai por volta das 18h e Sofia e Pedro, asseguram, à vez, os cuidados à mãe. Querem certificar-se que faz a refeição do jantar, que toma a medicação de forma correta e que não se levante de noite e caia.
Os fins de semana são, também, assegurados pelos filhos.
D. Luísa sente-se triste. Apesar de estar na sua casa, tem uma pessoa que é, carinhosa e cuidadosa, mas não deixa de ser uma estranha. Não consegue fazer as suas coisas, ao seu ritmo, pois a cuidadora faz tudo por ela.
Ao final do dia conta com a presença dos filhos mas também não sente prazer nessas visitas. Não lhes quer dar trabalho e sente que eles desorganizam as suas vidas para poderem acompanhá-la ao fim do dia e noite.
Tentaram arranjar uma cuidadora para as noites, mas o valor a pagar por 2 cuidadoras era avultado.
D. Luísa quer dizer o que sente, mas não o faz. Ser velho é difícil! Tem receio de magoar os filhos pois estão a fazer um esforço para poderem cuidar dela.
Sente que o seu desejo de ficar em casa não é o que pensava. A presença diária dos filhos tem como objetivo vigiar e prestar os cuidados à mãe e não o estar verdadeiramente com ela, sem preocupações, sem pensar na hora do jantar e da medicação.
Sabe que tem muita idade e apesar de ainda fazer as suas coisas, o medo de uma queda ou que se sinta mal e se encontre sozinha mobilizou os filhos para uma superproteção que não a deixa feliz.
Pede muitas vezes, nas suas orações, para partir. Acha que já não está cá a fazer nada.
Sabe que os filhos fazem tudo isto por amor. D. Luísa também os ama. Eles próprios estão com setenta anos e estão a fazer um esforço gigante para que D. Luísa esteja bem.
D. Luísa aceita tudo pois quer estar na sua casa, mas não está feliz. Talvez aceite ir para uma ERPI…
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