27/07/2025
A semana podia ser muito boa e preenchida, ou muito sofrida e uma pasmaceira, mas uma coisa era certa: o almoço de domingo na casa da avó.
A minha avó paterna não falava muito de amor, até fazia caretas de desdém quando nos dávamos a lamechices, mas tinha uma linguagem de amor muito própria. A linguagem de amor da minha avó era este ato de serviço: preparar um banquete dos reis, para os príncipes pequeninos e princesas pequeninas que éramos nós, os netos. As batatas sempre cortadas da forma preferida, bifes em alternativa ao peixe branco, doces para a sobremesa. Salame caseiro feito connosco, as mãos a cheirar a chocolate todo o dia. O almoço de domingo era religiosamente certo, como uma missa da família. Na casa da avó mandava a avó e o avô e fechávamos a semana, abrindo outra, em encontro e Amor. Mesmo quando discutíamos muito e falávamos uns por cima dos outros, muito alto e de boca cheia.
A minha infância mede-se de domingo a domingo, estou muito certa. E hoje os almoços de domingo são em casa da minha mãe, a mesa posta ao gosto da minha filha, a rainha-mor desta nova família. Ficam à cabeceira, avó e filha, porque encabeçam o Amor que nos guia. Que nos alimenta. De domingo a domingo.