16/12/2025
“Escutar” a doença, como se fosse uma linguagem…
“Tudo o que somos é o resultado do que pensamos.
Se uma pessoa fala ou age com pensamentos negativos, o sofrimento segue-a como uma sombra.
Se uma pessoa fala ou age com pensamentos positivos, a felicidade segue-a.”
— Buda
As emoções são desencadeadas pelo contacto sensorial com o mundo exterior, contacto esse mediado pelos cinco sentidos. Uma vez que os seres humanos se relacionam entre si e com o ambiente através destes cinco órgãos sensoriais, encontram-se continuamente num estado de resposta emocional.
Para além dos cinco sentidos físicos, os chineses e outras civilizações orientais consideram a mente temporal como um sexto sentido.
Por essa razão, fantasias, sonhos e outras imagens auto-criadas funcionam de forma semelhante aos estímulos externos, provocando respostas emocionais. Tal como todas as formas de energia humana, as emoções exercem efeitos fisiológicos profundos sobre os órgãos internos, as glândulas e outros tecidos, para os quais se dirigem através dos canais energéticos.
Cada emoção que desenvolvemos desencadeia reações fisiológicas no organismo, como a secreção de diversas hormonas, a libertação de neurotransmissores no cérebro e no sistema nervoso, alterações do pulso e da pressão arterial, aceleração da respiração e estimulação ou supressão da digestão e do peristaltismo.
Quando uma resposta emocional se torna extrema ou explosiva, e quando se prolonga ou se repete com frequência, provoca uma série de reações fisiológicas severas que podem lesar gravemente os órgãos associados e desequilibrar todo o sistema energético humano.
Quando isto acontece, o escudo radiante de energia protetora é afetado, a resistência e a imunidade diminuem, e as emoções agressivas tornam-se causas internas importantes de doença, degeneração e enfraquecimento.
Os acessos de raiva, por exemplo, lesam o fígado. Com o tempo, a energia emocional libertada durante esses acessos inibe a função hepática, o que se manifesta através de sintomas como irritabilidade e nervosismo. Este estado predispõe a novos acessos de raiva, lesionando ainda mais o fígado e estabelecendo um círculo vicioso psicofisiológico que acaba por conduzir à doença e à debilidade. Outro exemplo é a esquizofrenia e a violência crónica, perturbações emocionais que, há décadas, os psiquiatras tentam tratar sem sucesso terapêutico significativo.
A consequência fisiológica mais perigosa das chamadas sete emoções é a afetação do sistema imunitário, tornando o organismo vulnerável a infecções oportunistas e a doenças degenerativas, muitas delas fatais. É um facto bem conhecido na medicina ocidental que uma pessoa que se abandona durante muito tempo à dor causada pela perda do companheiro de vida se torna mais susceptível ao cancro, a doenças cardíacas e a outras patologias fatais.
Raiva —
quando atinge níveis extremos, pode lesar a energia yin do fígado, energia que controla o sangue, a bílis e outros fluídos associados. O desequilíbrio resultante permite que a energia yang do fígado irrompa como um fogo descontrolado e suba em direção ao coração e ao crânio, produzindo dores de cabeça, tonturas, visão turva e confusão mental. Neste sentido, o adjetivo “colérico” refere-se tanto a um temperamento irascível como a uma disfunção hepática. Os acessos frequentes de raiva afetam o fígado, aumentando a predisposição para a irritabilidade e criando assim um círculo vicioso de energias emocionais destrutivas.
Ansiedade —
“a ansiedade bloqueia a energia e lesa os pulmões. Provoca congestão do aparelho respiratório e compromete a respiração”. Como os pulmões governam a energia através da respiração, a ansiedade bloqueia o fluxo energético ao inibir o processo respiratório, o que, por sua vez, reduz a resistência ao enfraquecer o escudo de energia protetora. A ansiedade afeta também o intestino grosso — órgão yang associado aos pulmões — podendo causar obstipação e colites ulcerativas. De forma semelhante, a ansiedade crónica afeta o baço, o pâncreas e o estômago, causando indigestão e privando o organismo da energia nutritiva, diminuindo assim a resistência geral.
Concentração excessiva —
afeta o baço, o pâncreas e também o estômago, o órgão yang a eles associado. O termo “concentração” refere-se aqui a uma fixação psíquica obsessiva num determinado problema, a uma preocupação mental constante, incluindo qualquer forma de inquietação crónica. Esta condição afeta a digestão, provoca dores abdominais e reduz a resistência ao privar o corpo da energia nutritiva. São bem conhecidas as ligações entre a preocupação crónica e perturbações gástricas, como úlceras e indigestão.
Mágoa / tristeza profunda —
períodos prolongados de mágoa intensa lesam o coração e os pulmões, afetando por vezes também o pericárdio, juntamente com o seu órgão yang correspondente — o “Triplo Aquecedor”. Estas emoções provocam uma dispersão rápida das reservas de energia vital do corpo, diminuindo drasticamente a resistência. Na medicina ocidental, é bem conhecido que pessoas em estado de luto prolongado são altamente vulneráveis a doenças graves, incluindo o cancro.
Medo —
o medo excessivo afeta os rins, provocando uma diminuição da energia a esse nível, podendo por vezes levar à perda de controlo da bexiga, órgão yang associado. O Clássico da Medicina Interna afirma:
“Quando a energia dos rins está diminuída, o indivíduo cai facilmente numa condição de medo crónico, que predispõe à insuficiência renal e à lesão permanente dos rins.”
As crianças que urinam na cama são frequentemente marcadas por sentimentos de medo, sendo tanto a enurese como o medo resultado de uma diminuição da energia dos rins.
Susto / pânico —
distingue-se do medo pela sua natureza frequentemente inesperada, que choca todo o organismo, alarma o espírito e faz com que a energia se disperse. Como o coração abriga o espírito, o susto afeta primeiramente o coração, sobretudo na fase inicial. Se persistir e se transformar em medo crónico, acaba também por lesar os rins.
De um modo geral, o coração é o órgão mais vulnerável às lesões provocadas por excessos emocionais, pois é ele que alberga o espírito e a consciência.
As Três Joias do corpo, segundo a medicina tradicional chinesa — energia, essência e espírito — sempre foram consideradas valores preciosos da vida e cuidadosamente protegidas contra perigos.
Hoje, a chamada “civilização moderna” gasta milhares de milhões de euros ou dólares por ano para manter fortes defesas nacionais contra ameaças externas, mas esquece-se completamente de aplicar o mesmo princípio à defesa preventiva da própria saúde. As pessoas comem, bebem e vivem de forma desordenada, sem pensar que este estilo de vida ataca diretamente a sua saúde.
Quando adoecem, correm ao médico à procura de uma solução rápida e raramente imaginam que as suas doenças são, em grande parte, auto-induzidas.
A prática médica baseada em “protocolos” tornou-se cada vez mais fragmentada em especialidades estreitas, e os pacientes procuram ajuda olhando apenas para a parte do corpo onde surgem os sintomas. No entanto, os sintomas podem manifestar-se longe da raiz causal da doença.
A doença nunca surge do nada. É sempre precedida por inúmeros sinais que a vida nos envia: sinais subtis, sincronicidades, as chamadas coincidências, que nos alertam para o facto de não estarmos em harmonia, de estarmos a seguir um caminho errado. Contudo, geralmente ignoramo-los, permanecendo cegos a esses avisos. Quando esta situação persiste, surge a doença — que é também um sinal, mas desta vez muito mais claro e explícito, impossível de ignorar.
“Escutar” a doença como se fosse uma linguagem, um sinal do organismo dirigido a nós para compreendermos as suas causas, é uma forma de autoconhecimento, de comunicação conosco próprios nos nossos aspectos mais íntimos e profundos, e constitui simultaneamente o primeiro passo no caminho da cura.
Irina Vasi