09/10/2025
“Há dias em que sinto que passo mais tempo a tentar acalmar o meu medo do que realmente a viver. Lavo as mãos vezes sem conta, verifico a porta ou a repito ações e pensamentos vezes sem conta …
O ritual começa com um pensamento — um “e se?”. “E se algo mau acontecer porque não fiz isto da forma certa?”; “E se estou sujo?” ; “E se contamino alguém?”
O coração acelera, a ansiedade aumenta, e a única forma de sentir algum alívio é fazer o ritual.
Por alguns segundos, sinto-me seguro. Mas o alívio dura pouco. Logo a dúvida volta: “E se não foi o suficiente?”. E eu começo tudo de novo. Viver assim consome tempo, energia e paz.
Chego atrasado, evito pessoas, adio decisões.
A minha mente exige garantias absolutas — e, como o mundo não as dá, fico preso num ciclo sem fim de verificar, repetir, confirmar.
O que as pessoas que estão à minha volta não percebem é que estes rituais não são uma mania — é uma tentativa desesperada de controlar o incontrolável. Durante muito tempo, eu achava que conseguiria lidar sozinho e que ninguém se apercebia destes comportamentos. Mas rapidamente percebi que todos observavam os meus rituais e todos tentavam para-los. Percebi que mesmo que eu tente parar já não o consigo fazer. É mais forte que eu.
A POC não é falta de força de vontade. É uma luta constante contra o medo e a dúvida, que muitas vezes toma conta de cada decisão, de cada gesto, de cada pensamento. E tentar controlá-lo sozinho é como tentar apagar um incêndio com as próprias mãos.
Com a terapia percebi que: o objetivo não é eliminar os pensamentos obsessivos — é mudar a forma como me relaciono com eles.
Aprender a tolerar a incerteza. Permitir que o medo exista sem responder com um ritual. Aceitar o desconforto e continuar. Passo a passo, aprendo que o alívio verdadeiro não vem de repetir, mas de não precisar repetir. E, em alguns casos, a medicação também é necessária neste processo.
Não como fraqueza, mas como suporte, porque, às vezes, o cérebro precisa de ajuda para se acalmar o suficiente para aprender algo novo.
Procurar ajuda é o primeiro passo para recuperar o que a POC tenta roubar: a liberdade de simplesmente viver.”