19/11/2025
São agora 19h. Nas suas casas, existem famílias com crianças neurodivergentes a viver um meltdown ou shutdown. Na escola, aparentemente, o dia foi tranquilo.
Esta é uma realidade que levanta várias questões, sentimentos de culpa e inseguranças: “O que estamos a fazer de errado?”, “Porquê aqui?”. Culpas muitas vezes alimentadas pelos profissionais, que não se atualizam e que continuam com um pensamento linear de que “se o comportamento acontece em casa, o problema está em casa”.
A verdade é que a resposta tem tanto de simples, como de complexa: vivemos numa sociedade que ainda não aceita, de forma real e efetiva, a diferença. Continuamos a querer mudar as crianças neurodivergentes para que elas se tornem o mais próximo possível do que é ser neurotípico e, com isso, proibimos-as, dia após dia, de se revelarem. De serem elas próprias.
Não aceitamos que não nos olhem nos olhos quando queremos, ou achamos que é correto; não aceitamos que tenham a necessidade de se mexer; não aceitamos que os seus corpos realizem determinadas ações repetitivas porque, por alguma razão, elas nos são incomodativas…
E aqui, surge um grande problema, pois ao não procurarmos compreender a criança, aceitá-la e colocar em prática as adaptações que estiverem ao nosso alcance, ela começa, consciente ou inconscientemente, a sentir necessidade de mascarar as suas características.
A criança não se sente em segurança ali, naquele espaço e com aquelas pessoas, e por isso começa a forçar comportamentos que não lhe são naturais, para que deixem de discutir com ela, questiona-la, chantageá-la, ou colocar de castigo. É uma luta entre corpo e cérebro. Entre a sociedade e a sua identidade.
Depois, é precisamente em casa - o ambiente de conforto -, onde ela sente que pode deitar cá para fora tudo o que esteve a acumular durante o dia. Esse é o espaço onde ela pode, finalmente, suspirar e tirar a máscara que a obrigaram a carregar o dia todo.
Não é falta de educação, ou de limites, é exteriorização.