01/07/2025
DISFARCE DE ALMA: O PREÇO DOS SEGREDOS ESCONDIDOS
Por: Dernivaldo Pereira de Souza
Existem prisões que não têm grades.
Existem máscaras que não se colam ao rosto, mas ao espírito.
E há uma espécie de sombra que caminha com o ser humano mesmo à luz do dia:
o segredo que ele esconde.
Não falo de privacidade, que é um direito.
Nem da intimidade, que é sagrada.
Falo dos segredos que foram enterrados vivos —
aqueles que ainda respiram, se contorcem, clamam por liberdade,
mas são calados por medo, vergonha, culpa ou covardia.
Esses segredos não apenas pesam.
Eles disfarçam a alma.
Todo ser humano que esconde um segredo profundo e não resolvido,
vai pouco a pouco perdendo a si mesmo.
Passa a viver uma duplicidade existencial:
uma vida pública e uma vida real.
Uma imagem que projeta e uma essência que esconde.
Um “eu” que sorri… e um “eu” que sangra.
E quanto mais tempo esse segredo permanece escondido,
mais o disfarce se torna parte da pele,
até que o próprio sujeito já não sabe mais quem é —
o que sente, o que acredita, o que quer.
O segredo o consome.
O disfarce o engole.
E o ser se torna fantasma de si mesmo.
A verdade é que ninguém esconde um segredo sem pagar um preço.
Alguns pagam em forma de insônia.
Outros em forma de crises inexplicáveis, ansiedade, irritabilidade, culpa, depressão.
Outros ainda, com doenças psicossomáticas, com solidão, com fracassos repetidos.
O corpo sente o que a boca cala.
A alma responde ao que a consciência enterra.
O universo ouve o que você tenta silenciar.
E não adianta esconder de todos —
porque você mesmo sabe o que carrega.
Há quem diga: “Deixo o passado no passado.”
Mas o passado não f**a onde foi deixado,
se ele ainda não foi resolvido.
Ele se disfarça.
Ele volta.
Ele se infiltra em atitudes, relacionamentos, decisões.
Ele vira medo de amar.
Desconfiança sem motivo.
Agressividade defensiva.
Autoimagem distorcida.
Onde há segredo escondido,
há uma alma deformada tentando se sustentar sobre fundações rachadas.
A maior ilusão de quem esconde segredos é pensar que está se protegendo.
Mas na verdade, está se sabotando.
Está impedindo o florescimento da própria verdade.
Está impedindo a liberdade de viver com inteireza.
Está sendo prisioneiro de si mesmo.
E não se engane:
quanto mais você esconde,
mais você precisa representar.
E quanto mais você representa,
mais se distancia da tua essência.
E com o tempo,
você se torna um estranho dentro da própria vida.
Há um momento em que o ser humano precisa parar tudo e se encarar.
Olhar de frente os seus medos, suas culpas, seus erros, suas dores.
E então decidir:
“Prefiro uma verdade que me liberta a uma mentira que me consome.”
É nesse momento que o disfarce começa a cair.
Que o segredo começa a ser exposto à luz da consciência.
E mesmo que doa, mesmo que cause perdas, mesmo que abale estruturas…
é esse o caminho da cura.
Porque não existe paz onde há segredo escondido.
Não existe leveza onde há disfarce de alma.
A alma foi feita para brilhar —
não para fingir.
Foi feita para se expandir —
não para se esconder.
Toda alma que vive em disfarce está adoecendo.
Todo segredo que permanece oculto está criando raízes podres.
E cedo ou tarde… isso apodrece tudo ao redor.
Se esse texto toca em você —
não como julgamento, mas como espelho —
entenda que ainda há tempo.
Tempo de rasgar as vestes da mentira.
De tirar a maquiagem emocional.
De encarar a tua própria verdade, sem medo.
Porque onde a verdade entra, o disfarce morre.
E onde o disfarce morre, a alma volta a respirar.
Desconstruir um segredo é um ato de coragem.
É admitir que não queremos mais sobreviver com dor,
mas viver com verdade.
É aceitar que a autenticidade assusta, mas liberta.
E que ser inteiro é mais digno do que ser aceito com base em falsidade.
Você pode continuar escondendo.
Pode continuar disfarçando.
Mas saiba:
a alma sabe.
E o céu também.
E ambos esperam o momento em que você deixará de mentir para si mesmo
e finalmente viverá a vida que nasceu para viver: sem segredos, sem medo, sem disfarces.
***Dernivaldo Pereira de Souza***
Imagem Ilustrativa Retirada da Internet: Joe Pivovar