13/02/2024
Espero que o conteúdo que publiquei no último texto, tenha tido utilidade para a vossa compreensão em perceber como um trauma profundo, influencia ao longo de toda a nossa vida o modo de como vemos e sentimos tudo o que está à nossa volta.
Volto a recordar que o caso que apresentei serve apenas como exemplo pois, basta ligar a televisão e somos logo invadidos com imagens de homens, mulheres e crianças vítimas de uma guerra que lhes vai deixar traumas para a vida inteira.
Uma vez que já há uma melhor noção daquilo que é um trauma, irei fazer uma pequena abordagem de como a tudo muda a partir daquele momento.
Não é difícil entender que qualquer coisa marcante que aconteça na nossa vida, nos acompanhará até ao fim dos nossos dias com algo inalterável e imutável nas nossas mentes.
Tudo que foi visto, sentido ou experimentado jamais poderá ser desfeito ou apagado, uma vez que tudo f**a registado no nosso Inconsciente.
Até podemos esquecer o acontecimento durante largos anos, no entanto, quando ele nos vem à memória, o que mais nos deixa desconfortáveis não é o que recordamos, mas sim as sensações que novamente experimentamos e que sentimos na altura como por exemplo, a humilhação, o medo, o aperto na garganta, no peito, assim como uma data de outros sintomas que podem ocorrer.
O fim de um relacionamento, por exemplo, não é o que mais custa.
O que mais custa são as sensações que sentimos decorrentes da situação; sensação de vazio, abandono, baixa auto-estima, angústia, tristeza, raiva, dores no peito, na garganta, insónias, mau humor, irritabilidade, falta de concentração e muito mais coisas que se sentem e que todos vocês sabem tão bem como eu.
Afinal de contas, todos passamos todos por estas coisas que ultrapassamos melhor ou pior, dependendo das características de cada um de nós.
O certo é que dali para a frente, o nosso corpo passará a estar alerta para se defender contra uma ameaça que pertence ao passado.
Cair nos braços ou fecharmo-nos na nossa co**ha perante alguém que nos apareça, tem tudo a ver com a tentativa de anular todo o caos interior em que vivemos cuja causa são as dores sentidas pela ruptura do relacionamento.
Se isto fosse linear, a coisa até era fácil de resolver. No entanto, as características de cada um acabam por determinar se o processo de enfrentar uma separação é mais ou menos fácil.
Existem pessoas em que o terminar de uma relação (ou a morte de uma pessoa querida), magoa e causa um sofrimento muito profundo.
A nossa sociedade, nos tempos que correm, não é sensível nem solidária com o sofrimento de cada um.
Geralmente o estar em baixo animicamente é um sinal de fraqueza que para os outros e algo censurável.
O resultado quase sempre é sofrer-se calado e engolir para dentro e, a energia que se gasta no sentido de manter o controlo sobre as reacções psicológicas provenientes do caos interior, podem resultar num conjunto de sintomas físicos que se podem manifestar como por exemplo, depressão, ansiedade, ataques de pânico, fibromialgia, fadiga crónica, e outras doenças autoimunes.
Se acham que eu estou a especular sobre a forma como gerimos as nossas dores emocionais, apelo para que atentem no acontecimento amplamente divulgado nas televisões (e não só), dos casos de abuso sexual feitos na Igreja.
As vítimas demoraram vários anos para terem a coragem de denunciar os abusos. E esse silêncio foi motivado porquê?
A resposta pode ser observada sobre os muitos comentários jocosos que aparecem aqui nas redes sociais sobre as vítimas.
Perante este estado de coisas como é que querem que uma criança ou alguém mais adulto fale quando sofre de abuso sexual, bullying ou mesmo de violência que sofra em casa?
Afinal de contas, a guerra para além de estar lá fora no mundo, também pode bem estar nas nossas casas!
Se como atrás disse, "qualquer coisa marcante que aconteça na nossa vida, nos acompanhará até ao fim dos nossos dias com algo inalterável e imutável nas nossas mentes" então como ultrapassar isto?
Bom isso vai ter de f**ar para mais tarde. Até lá, fiquem bem e cuidem-se 🙂