04/12/2021
As dificuldades alimentares nas crianças têm sido uma grande preocupação manifestada pelos pais em consulta. As descrições reportadas caraterizam um padrão de comportamento que denominamos de seletividade alimentar.
Esta perturbação tem uma classif**ação relativamente recente, e as suas manifestações são muito variáveis, o que dificulta muitas vezes, os pais reconhecerem os sinais de um problema no comportamento alimentar dos filhos.
A recusa em relação aos alimentos pode ser provocada por aspetos sensoriais, tais como não gostar do paladar, do cheiro, cor ou textura dos alimentos, mas também por questões psicológicas, ou seja, a associação de emoções negativas a determinados alimentos. É importante a realização de uma avaliação para um correto diagnóstico.
Alguns pais contam que os filhos aceitam a alimentação na escola, mas em casa rejeitam quase todos os alimentos. Ora, a seletividade alimentar está relacionada com os alimentos, não com os espaços. Neste caso, estamos a falar de dificuldades na relação entre pais e filho(a), que de alguma forma são deslocadas para o momento das refeições.
Quando as crianças são difíceis de alimentar, muitas vezes os pais recorrem a tablets, televisão ou smartphones, com o objetivo de distrair a criança, parecendo que o ambiente na hora das refeições f**a mais tranquilo. Se a criança não está focada no momento de refeição, também não consegue perceber os sinais de satisfação, fome ou prazer, causando distúrbios na ingestão dos alimentos, tanto ao nível da qualidade como da quantidade.
Não é menos frequente os pais oferecerem à criança apenas os alimentos que à partida não serão recusados, ou sob a forma líquida, para facilitar a ingestão. Esta iniciativa não só reduz as possibilidades de a criança experimentar novos sabores e texturas, como não estimula a mastigação, movimento que antecede a fala, e se relaciona com uma correta articulação dos sons da fala.
Queridos pais, estejam certos que ao entreter a criança no momento da refeição, até podem conseguir alguma paz, mas de curta duração, com prejuízos para o seu desenvolvimento, o equilíbrio nutricional e a relação da criança com uma alimentação saudável.